Sensos-e Vol: III Num: 1  ISSN 2183-1432
URL: http://sensos-e.ese.ipp.pt/?p=10453

(Por) Portas e Travessas: Ensino, Investigação e Intervenção Social na e com a Cidade

Autor: Rosalina Pisco Costa Afiliação: Universidade de Évora & CEPESE

Resumo: Este artigo descreve uma experiência pedagógica que cruza ensino, investigação e intervenção social, desenvolvida no âmbito de uma disciplina de metodologia de investigação qualitativa com alunos universitários dos cursos de Sociologia e Ciências da Informação e da Documentação na cidade de Évora (sul de Portugal, Europa). O projecto de iniciação à investigação científica “(Por)Portas e Travessas” foi incluído no plano de actividades 2015 do CLASE – Conselho Local de Acção Social de Évora com o propósito de analisar e compreender a experiência do envelhecimento por relação com o espaço urbano no centro histórico de Évora, classificado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1986. A investigação foi desenvolvida em várias fases de recolha e análise de dados, incluindo a aplicação de entrevistas e realização de etnografias urbanas em diversas ruas e travessas da cidade, culminando com uma sessão pública organizada pelos estudantes, onde os residentes foram também convidados a participar como comentadores. Espera-se que a experiência aqui descrita sirva de base a uma reflexão sobre a relação entre ensino (superior), investigação e intervenção social que, tendo a cidade em pano de fundo, potencie um envolvimento mais rico e criativo entre o ambiente académico, a sociedade civil e a comunidade local.
Palavras-Chave: Cidade, Ensino, Investigação, Intervenção Social, Metodologias qualitativas.

Abstract: This article describes a pedagogic experience that crosses teaching, research and social intervention, developed within the framework of a qualitative research methodology course with graduation students from sociology and sciences of the information and documentation, in the city of Évora (located in the south of Portugal, Europe). The project titled "Streets, Alleys and City Lanes" was included in the activities plan 2015 of the CLASE – the Local Council of Social Action of Évora, aiming to analyze and understand the aging experience in relation to the urban space in the Évora historic centre, a UNESCO World Heritage Site since 1986. The research was carried out at various stages of data collection and analysis, from the application of semi-structured interviews with the elderly, urban ethnographies in several streets throughout the city, culminating in a public session of data presentation, organized by students, where residents were invited and engaged as discussants. It is expected that this experience might enhance a major reflection on the relationship between teaching in higher education, research and social intervention. Having the city as a backdrop, this text argues that combining these three vectors promotes a richer and creative engagement between the academic environment and the local community.
Keywords: City, Teaching, Research, Social Intervention, Qualitative Methodologies.

(Por) Portas e Travessas: Ensino, Investigação e Intervenção Social na e com a Cidade

Autor: Rosalina Pisco Costa Afiliação: Universidade de Évora & CEPESE

Introdução

Apesar da crescente visibilidade e recurso a metodologias mistas de investigação social (mixed-methods) por parte dos sociólogos, o certo é que na sua prática profissional estes optam frequentemente por uma abordagem ora de pendor mais quantitativo, ora mais qualitativo. Uma das características da investigação de tipo qualitativo é que o investigador constitui em si mesmo o principal instrumento de recolha de dados (Miles & Huberman, 1994; Berg, 2009; Clesne, 1999; Denzin & Lincoln, 2000). Em conformidade com este princípio, ensinar metodologia de investigação e análise qualitativa em cursos de licenciatura deverá assentar numa combinação tão estreita quanto possível entre a exposição teórica e o envolvimento dos estudantes em exercícios de natureza prática que os aproximem de um verdadeiro “trabalho de campo” (Flick, 2015; Gilbert, 2001; Janesick, 1998). Em última análise, a adopção de uma tal estratégia (combinada) visa dotar os estudantes, por um lado, dos conhecimentos necessários; por outro, do treino de competências que lhes permitirão mais tarde compreender a complexidade da realidade social e assim prosseguir com a tradição de qualidade e excelência iconicamente representada por estudos e autores clássicos no campo, como seja The Polish Peasant in Europe and America: monograph of an immigrant group (Thomas & Znaniecki, 1918) ou Street Corner Society – The Social Structure of an Italian Slum (Whyte, 1943).

Este artigo apresenta uma experiência de ensino-aprendizagem desenvolvida no âmbito da unidade curricular “Laboratório de Análise Qualitativa”, ministrada a estudantes de Sociologia e de Ciências da Informação e da Documentação na Universidade de Évora. Usualmente, os estudantes inscritos nesta disciplina adquirem conhecimentos e desenvolvem competências em torno de um determinado tema, definido pela professora, empreendendo depois recolha de dados afim por meio de entrevistas e técnicas de observação directa. No ano lectivo 2014/15 foram convidados a desenvolver um exercício prático visando um estudo aprofundado do dia-a-dia dos idosos na cidade em que estudam/habitam. Deste modo, enquanto os principais tópicos que compõem o programa da disciplina iam sendo apresentados e explorados através de aulas de natureza expositiva, os estudantes avançavam no terreno, aplicando conhecimentos e testando competências várias. A apresentação de resultados foi feita periodicamente sob a forma de monitorização e feedback oral em aula, bem como pela apresentação de relatórios escritos. No final do semestre os estudantes organizaram ainda uma sessão pública de disseminação de resultados, onde os residentes foram convidados e incluídos como comentadores.

Para além dos fins académicos já explanados, o projecto de iniciação à investigação científica “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora” foi incluído no Plano de Actividades 2015 do CLASE – Conselho Local de Acção Social de Évora, de que o Departamento de Sociologia é membro. O CLASE constitui-se como uma rede social que agrega mais de uma centena de instituições locais, tendo como principais competências fomentar a articulação entre os organismos públicos e entidades privadas com vista a uma actuação concertada na prevenção e resolução dos problemas locais de exclusão social que afectam os indivíduos e as suas famílias. O envolvimento dos estudantes neste enquadramento institucional contribuiu sobremaneira para a sua motivação, já que tinham plena noção que ao mesmo tempo que o seu trabalho era requisito sine qua non para obter a aprovação na disciplina, integrava também um projecto maior, que permitia o diagnóstico social local e posterior desenvolvimento através do desenho e implementação de políticas públicas, preparando-os desse modo para uma futura integração profissional.

No final do semestre, professora e alunos foram unânimes em reconhecer a importância deste exercício na experiência de ensino e aprendizagem. Na medida em que a replicação do exercício, pelo menos num futuro próximo, enfrenta algumas restrições na mesma cidade e universidade, esta experiência pode ainda assim ser adaptada e desenvolvida em vários contextos no âmbito de disciplinas semelhantes de metodologia de investigação em sociologia ou ciências sociais em sentido amplo. Por outro lado, esta experiência parece ser particularmente interessante nos casos em que os estudantes necessitam desenvolver competências no quadro da aplicação de entrevistas ou observação com vista à obtenção de conhecimento aprofundado de determinados espaços ou comunidades. Assim se abre o campo de aplicação a várias disciplinas onde a observação de lugares, especialmente o urbano, pode constituir uma competência chave no processo de aprendizagem, nomeadamente em sociologia urbana, sociologia da vida quotidiana ou sociologia do consumo. Para além disso, este exercício tem ainda um forte potencial de transferibilidade para outros cursos de ciências sociais, como a antropologia ou psicologia, e até mesmo para outros campos de estudo que assentam numa estreita relação com o espaço urbano, como seja a geografia ou a arquitectura.

O presente artigo está estruturado em três secções principais. Após esta introdução, uma breve apresentação familiariza o leitor com a importância de combinar metodologias expositivas com estratégias de aprendizagem activa no ensino de metodologias qualitativas de investigação social em cursos de nível superior. Em seguida, detalha-se esta experiência específica de ensino-aprendizagem com elementos relativos ao contexto de sala de aula e trabalho de campo ao longo da calendarização semestral. Finalmente, este artigo oferece também uma auto-avaliação crítica e reflexiva em torno dos principais objectivos pedagógicos da unidade curricular, nomeadamente os que se relacionam com a escrita científica, disseminação de resultados de investigação e trabalho em rede. A terminar, apresenta-se uma síntese e reflexão global tendo em vista suscitar o interesse dos eventuais leitores para empreenderem possíveis adaptações e transferência da experiência pedagógica para outros contextos sociais, incluindo os académicos.

Ensino: introduzir os estudantes no ofício do investigador qualitativo

Investigação qualitativa e metodologias activas de ensino-aprendizagem

As metodologias qualitativas constituem uma competência chave entre os sociólogos e uma componente distintiva nos seus curricula. Os estudantes usualmente adquirem estas competências ao longo do seu percurso formativo, de modo que é essencial que os professores de ensino superior possam conceber e avaliar exercícios pedagógicos que as permitam desenvolver. Na organização do processo de ensino-aprendizagem de tais metodologias, a maior parte dos docentes opta por uma abordagem mista, onde a exposição é acompanhada de estratégias activas.

Por um lado, e apesar de algumas críticas a respeito das metodologias expositivas, nomeadamente porque privilegiam um fluxo unidireccional de informação e não envolvem adequada ou suficientemente os alunos, estas são ainda reconhecidas como uma estratégia de ensino eficaz, uma vez que servem os objectivos de apresentar de modo detalhado os principais temas de um programa, permitindo que o professor adopte estilos diferentes de exploração dos mesmos num ambiente de aprendizagem rico e activo (Atkinson, Lowney & Kathleen, 2016; McKinney & Heyl, 2009). Por outro lado, as abordagens activas de ensino-aprendizagem, como o trabalho em pequeno grupo, são conhecidas por promoverem o debate, a reflexão e a construção do conhecimento de modo criativo, priorizando a interacção entre os estudantes na produção desse mesmo conhecimento e criando fluxos multidireccionais de informação, especialmente profícuos entre estudantes universitários (Huggins & Stamatel, 2015; Latshaw, 2015). Além disso, neste tipo de abordagem professores e alunos também podem desenvolver e beneficiar de outras estratégias activas específicas, como o co-design ou o co-ensino (Cordner, Klein & Baiocchi, 2012).

Porque as abordagens de aprendizagem activas envolvem sempre algum tipo de apresentação de resultados, isto permite aos alunos não apenas desenvolver competências ao nível da escrita mas também de apresentação e discussão oral. Estes aspectos são particularmente importantes já que a escrita em sociologia é uma preocupação transversal entre os professores deste campo (Becker, 1986; Edwards, 2012). Esta competência é ainda mais valorizada no quadro da investigação qualitativa, uma vez que a validação dos resultados de investigação apoia-se fortemente na qualidade da descrição e apresentação de dados, o que frequentemente acontece por meio de narrativas textuais (Mason, 2002; Patton, 2002; Silverman, 2011). Em suma, as preocupações que norteiam o ensino-aprendizagem de metodologias qualitativas de investigação social são indissociáveis de estratégias específicas tendentes a desenvolver determinadas competências, nomeadamente a escrita. Ao mesmo tempo que, directamente, a escrita serve o propósito de descrever as actividades desenvolvidas e comunicar os resultados obtidos, é uma ferramenta que estimula a reflexividade (Hood, 2006), inclusive ética para com a investigação científica (ISA, 2001) e um diálogo produtivo entre professor e alunos (Burgess-Proctor et al, 2014; Crowe, Silva & Ceresola, 2015; Parrott & Cherry, 2015).

Dentro da sala de aula: Laboratório de Análise Qualitativa [SOC2413]

A estratégia de ensino-aprendizagem  que aqui se apresenta foi desenvolvida no âmbito do “Laboratório de Análise Qualitativa” (LABQUAL) [SOC2413], uma unidade curricular (UC) ministrada a estudantes da licenciatura em Sociologia e Ciências da Informação e da Documentação na Universidade de Évora, no semestre par do ano lectivo 2014/15.

A oferta da unidade curricular “Laboratório de Análise Qualitativa” visa proporcionar aos estudantes a aprendizagem dos fundamentos teórico-epistemológicos que alicerçam a recolha sistemática, tratamento, análise e interpretação qualitativa de dados com vista a uma compreensão empiricamente sustentada da realidade social (Corbin & Strauss, 2008; Creswell, 2009; Descombe, 1998; Punch, 1998 e 2014). De modo complementar e transversal, esta disciplina prevê também o aprofundamento das competências metodológicas de base necessárias à reflexão crítica sobre a natureza, contextos de recolha/acesso e limitações dos dados em presença. Em conformidade, o programa da unidade curricular estrutura-se em torno da apresentação e exploração de cinco módulos temáticos, a saber: pressupostos teórico-epistemológicos da investigação qualitativa; o desenho da investigação qualitativa; a recolha de dados; análise e interpretação de material empírico; e, por fim, a apresentação de resultados de investigação qualitativa.

A unidade curricular é desenvolvida ao longo de 15 semanas lectivas em aulas teóricas e práticas de duas horas por semana cada, com divisão de classe em turma A e B na aula prática. Para além da sala de aula, a disciplina potencia ferramentas de e-learning que garantem a flexibilidade no processo de aprendizagem. Todos os conteúdos das aulas, tais como diapositivos de apoio, exercícios e referências bibliográficas são disponibilizados semanalmente aos alunos através da plataforma open-source MoodleTM.

Os métodos de ensino combinam metodologias que estimulam o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes, assentes num trabalho de reflexão, questionamento crítico e análise contínua, devidamente orientados e enquadrados nas sessões lectivas e de orientação prática. Por um lado, o método expositivo e interrogativo é desenvolvido por meio da apresentação das linhas de orientação teórica, analítica e metodológica da disciplina e de sistematização e problematização dos conteúdos programáticos, a fim de que os estudantes possam alcançar os objectivos de aprendizagem relacionados com a aquisição de conhecimentos teóricos fundamentais, bem como o conhecimento mais aplicado. Estas competências são avaliadas principalmente através de uma prova individual escrita no final do semestre. Adicionalmente, a disciplina assenta numa forte componente prática, desenvolvida em aulas orientadas para a realização de exercícios elaborados pelos alunos de forma individual e/ou em grupo. Essas competências são avaliadas por meio de feedback ao longo do semestre e avaliação contínua de três relatórios escritos, além de uma apresentação e discussão oral.

As aulas práticas são geralmente estruturadas em torno de um tema geral, o que ajuda a dar coerência aos vários exercícios elaborados ao longo do semestre. Este tema é normalmente escolhido de forma livre pelos estudantes, eleito de entre um conjunto de temas sugeridos pela professora. Excepcionalmente, isso não aconteceu em 2014/15, ano lectivo em que as aulas práticas foram organizadas sob o tema “(Por)Portas e Travessas. Quotidianos do envelhecimento no centro histórico de Évora”. A próxima secção apresenta e detalha o exercício então desenvolvido.

Investigação: (Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora

Enquadramento e objectivos

Évora é uma cidade de média dimensão situada no sul de Portugal (Europa), cujo centro histórico é classificado Património Mundial da UNESCO desde 1986. Este foi o locus de investigação, já que Évora tem a peculiaridade de acomodar, dentro de seu pequeno centro histórico, rodeado por uma muralha medieval, a segunda mais antiga universidade de Portugal, precisamente a instituição de ensino superior a partir da qual se desenrolou a presente experiência de aprendizagem. Numa adaptação das tradicionais placas toponímicas em azulejaria da cidade, esta foi a imagem concebida especificamente para o projecto:

placa_PTFigura 1 – Imagem do Projecto “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora”.

O estudo “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora” integrou, como já foi referido, o Plano de Actividades 2015 do CLASE – Conselho Local de Acção Social do Concelho de Évora. Criada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 197/97, de 18 de Novembro, e regulamentada através do Decreto-Lei n.º 115/2006, de 14 de Junho, a Rede Social encerra em si um papel fulcral enquanto estrutura prioritária e determinante da acção social municipal e concelhia, nomeadamente na implementação e desenvolvimento de uma intervenção estratégica e concertada nos diferentes problemas sociais, incentivando redes de resposta integrada de âmbito local, num quadro de desenvolvimento social sustentável e auto-regulado.

Entendida como fórum de articulação e concertação de respostas, a Rede Social tem como finalidade impulsionar o trabalho de parceria alargada, incidindo na planificação estratégica da intervenção social local envolvendo diversos actores sociais. Ao procurar contribuir para a erradicação da pobreza e da exclusão social, a Rede Social desempenha um papel fundamental ao nível do desenvolvimento social local e deve ser entendida como um modelo dinâmico de organização e de trabalho em parceria que incutirá maior eficácia e eficiência às respostas sociais e celeridade na resolução dos problemas concretos dos cidadãos e das famílias.

O CLASE agrega mais de 100 instituições locais, incluindo entidades públicas e privadas, funciona em plenário e é presidido pela Vice-Presidente da Câmara Municipal de Évora. Como vários parceiros foram convidados a propor pequenos projectos a serem incluídos nas actividades anuais de 2015, a professora da UC, em representação do Departamento de Sociologia, propôs-se desenvolver um projecto com os estudantes de LABQUAL no âmbito do eixo prioritário relativo ao Envelhecimento. Em concreto, o projecto tomou como referência as grandes preocupações globais em torno da relação entre envelhecimento e saúde no espaço urbano (OMS, 2015 e WHO, 2007), localmente centradas na vida quotidiana dos idosos residentes no centro histórico de Évora (CHE), com o objectivo geral de analisar e compreender a experiência do envelhecimento por relação com o espaço urbano. Os objectivos específicos foram definidos da seguinte forma: traçar o perfil sociodemográfico dos idosos residentes no CHE; descrever as trajectórias sociais dos idosos residentes no CHE; descrever e analisar o quotidiano dos idosos residentes no CHE; compreender a apropriação do espaço da rua por parte dos idosos residentes no CHE. A ideia foi prontamente aceite pelo Núcleo Executivo do CLASE e pelos estudantes da disciplina.

Além da sala de aula: metodologia mista e a rua como laboratório

Por forma a adquirir o leque de conhecimentos e competências associados ao ofício do investigador qualitativo (Denzin & Lincoln, 2000), os estudantes foram envolvidos numa estratégia de ensino-aprendizagem activa, no âmbito da qual desenvolveram um estudo de casos múltiplos (Guerra, 2006), apoiado na recolha e triangulação de dados por meio de pesquisa documental, entrevistas semiestruturadas e observação directa do espaço urbano (etnografias).

Numa primeira fase de realização do trabalho, os estudantes foram organizados em grupos de, no máximo, quatro elementos, tendo seleccionado livremente uma rua ou travessa do Centro Histórico da Cidade de Évora. No conjunto, foram seleccionadas as seguintes ruas e travessas: Travessa das Tâmaras, Travessa do Pão Bolorento, Rua da Cozinha de Sua Alteza, Rua da Graça, Rua da Oliveira, Rua 5 de Outubro, Rua da Mostardeira, Travessa das Mechas, Rua de Mendo Estevens, Travessa do Pocinho. Posteriormente, os estudantes recrutaram de modo intencional, a partir das suas redes de contacto pessoais e/ou profissionais ou ainda através de um procedimento em bola-de-neve (snow-ball), um indivíduo que aí residisse há pelo menos 10 anos. Este critério foi considerado importante para que o/a residente pudesse ter uma perspectiva mais aprofundada sobre a sua relação com o espaço dessa rua/travessa em particular. Tendo identificado o/a residente, os estudantes acordaram um tempo-espaço para recolher informação aprofundada através da aplicação de uma entrevista, o que veio a acontecer posteriormente durante o mês de Março de 2015.

A entrevista semiestruturada (Flick, 2005) foi elaborada e testada em sala de aula com recurso à técnica de role play encenada pelos estudantes. O guião de entrevista incidiu sobre o perfil sociodemográfico e, de modo mais aprofundado, sobre a trajectória dos indivíduos, o quotidiano e a apropriação do espaço da rua. O recurso à entrevista justificou-se como forma de reunir o máximo de informação, o mais detalhada possível, sobre a experiência da relação dos residentes com a (sua) rua, com os outros residentes e, em última instância, com a cidade. A entrevista foi gravada e alvo de uma transcrição verbatim auxiliada pelo Software Express Scribe (©NCH). No final, os dados recolhidos foram analisados ​​de acordo com os princípios básicos da análise categorial e temática intra-casos (Bardin,1977; Guerra, 2006; Krippendorff, 2004; Miles & Huberman, 1994), apresentados e discutidos em sala de aula. De modo complementar, a análise da biografia do entrevistado foi enriquecida visualmente com a ajuda de um genograma, especificamente desenhado pelos estudantes à medida que foram introduzidos na utilização do software GenoPro® 2011. Os estudantes elaboraram um primeiro relatório que foi entregue à professora para avaliação, posteriormente devolvido com feedback escrito.

Numa segunda fase, os estudantes regressaram à rua/travessa seleccionada, a fim de realizarem uma etnografia urbana. Em pequenos grupos, cumpriram um ciclo de 24 horas de observação directa, em vários momentos do dia e dias da semana. Este exercício permitiu-lhes completar os dados antes recolhidos por meio de entrevistas semiestruturadas e aprofundá-los com recurso a uma descrição o mais detalhada possível. Esta experiência revelou-se da maior importância, já que lhes permitiu observar os moradores, mas também turistas e estudantes que atravessaram a rua. Adicionalmente, os estudantes observaram movimentos, odores e também os sons característicos da rua ou travessa seleccionada. Estas informações foram registadas através de vários instrumentos, nomeadamente, fotografia, captura de vídeo, inclusive sketch urbano em alguns casos. Quer as descrições detalhadas, quer os registos complementares de dados foram posteriormente compilados num portefólio, o qual constituiu a base do segundo relatório entregue para avaliação e novamente devolvido aos estudantes com notas e comentários.

Numa terceira e última fase de investigação, os estudantes analisaram pequenos conjuntos de entrevistas, colocando em prática os princípios da análise qualitativa de conteúdo inter-casos (Bardin,1977; Guerra, 2006; Krippendorff, 2004; Miles & Huberman, 1994), com recurso a software específico (MAXQDA11, ©VERBI GmbH). Na base da selecção das entrevistas estiveram critérios distintos, devidamente justificados pelos estudantes: ora para procederem a uma análise aprofundada a partir de indivíduos com características semelhantes; ora para contrastar e comparar experiências de diferentes indivíduos, seja em função do género, dos capitais escolares, das trajectórias sociais, etc. A análise dos dados foi norteada pelos objectivos e questões de investigação e desembocou em categorias de análise construídas a partir de um procedimento misto, que combina a categorização fechada e aberta (ou à milha), aproximando-a da grounded theory. No final dessa análise, os estudantes discutiram os dados, escreveram as principais conclusões e integraram-nas num único documento com a versão revista dos dois relatórios anteriores, o qual foi entregue à professora para avaliação final e feedback.

Do ponto de vista ético e deontológico, os estudantes aderiram, em todas as fases do processo de investigação, aos princípios do Código Deontológico da Associação Portuguesa de Sociologia (APS, 1992). No final, 35 em 41 alunos (85,4%) obteve a aprovação e apenas dois dos estudantes envolvidos em avaliação contínua não obtiveram a aprovação final na disciplina.

Intervenção Social: conhecer, discutir, potenciar

Devolver e implicar

A intervenção social é frequentemente pensada como uma extensão do verbo intervir – na e com as populações –, visando principalmente a colmatação das suas necessidades, em particular as que têm que ver com as “fragilidades sociais”: o desemprego, o isolamento sociodemográfico, o insucesso escolar, as desigualdades no acesso a bens e serviços, a discriminação, etc. Neste sentido, intervenção social é sinónimo de investimento na qualidade de vida das populações, já que é a preocupação com o bem-estar das populações que conduz à mobilização de esforços que procuram oferecer respostas aos mais diversos problemas sociais. Falar de intervenção social implica, assim, assumir uma acepção ampla da palavra “intervenção”, desde logo porque o conhecer e diagnosticar está nela incluído. Com efeito, “[c]onhecer, interpretar e transformar fenómenos sociais é um processo que assenta num questionamento permanente, numa prática crítica e reflexiva de quem faz “intervenção social” (Cardoso & Silva, p. 3).

Metodologicamente, importa também fomentar o empowerment dos indivíduos, isto é, levá-los a participar na resolução dos seus problemas, envolvendo-os desde o início nos processos de inclusão e intervenção ativa enquanto cidadãos informados, responsáveis e com capacidade de decisão. Em concreto, detemo-nos agora sobre as formas de devolução dos resultados da investigação, os quais servem directa e indirectamente os propósitos da implicação, tanto da sociedade civil, quanto da comunidade científica. No que respeita à sociedade civil, a principal estratégia seguida para a devolução dos resultados da investigação compreendeu a organização de uma sessão pública de apresentação e discussão de resultados. Adicionalmente, inclui-se também aqui uma outra apresentação, a convite do CLASE, na reunião de plenário e a colaboração com os media.

A sessão pública de apresentação de resultados foi organizada pelos estudantes. Sendo dez os grupos de trabalho, privilegiou-se uma apresentação curta, convidando-se os estudantes a preparar pequenos vídeos de duração não superior a cinco minutos. Os estudantes responderam ao desafio e com base em conhecimentos anteriormente adquiridos e algumas competências especificamente desenvolvidas para o efeito, mobilizaram para a apresentação em suporte vídeo os dados recolhidos ao longo do projecto: transcrições de entrevistas, fotografias, gravações vídeo, sketch urbano e materiais complementares obtidos através de pesquisa documental. Esta apresentação teve lugar a 18 de Junho de 2015, no Colégio do Espírito Santo (Anfiteatro 131), o edifício principal da Universidade de Évora. A sessão foi divulgada através dos meios de comunicação institucional da Universidade (e.g. mailing list, intranet, internet e redes sociais) e os próprios residentes foram convidados a estar presentes através de um convite em papel entregue pessoalmente pelos alunos.

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Figura 2 – Convite para a sessão pública de apresentação de resultados no âmbito do Projecto “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora”.

A apresentação pública dos resultados foi organizada da seguinte forma: uma breve introdução foi realizada pela professora; em seguida, as apresentações de cinco minutos foram sequencialmente apresentadas; por fim, foi organizada uma mesa redonda com a moderação da professora e intervenções várias. No final, o público constituído por residentes no centro histórico, estudantes e licenciados em sociologia, professores e outros participantes teceu comentários, levantou questões e envolveu-se pronta e entusiasticamente no debate aberto.
Posteriormente, a professora foi convidada a participar numa reunião do CLASE (plenário), para aí apresentar os resultados do projecto. Esta reunião foi realizada em 30 de Junho de 2015 no edifício dos Paços do Concelho. No final da apresentação os parceiros presentes felicitaram a docente, os alunos e também a Universidade por esta ligação entre a academia, as instituições e a dinâmica da cidade. Paralelamente, o CLASE assumiu o compromisso de promover mais estudos e projectos tendo em vista o aprofundamento do estudo e a maximização dos resultados já obtidos. A título de exemplo, a assinatura em 2 de Fevereiro de 2016 de uma declaração de intenções entre a Câmara Municipal de Évora, o Departamento de Sociologia da Universidade de Évora e a União de Freguesias de Évora (São Mamede, Sé e São Pedro, Santo Antão), através da qual se comprometem a participar numa plataforma de cooperação visando contribuir através do desenvolvimento do projecto “Mais Próximo de Todos” para a referenciação, monitorização e integração de idosos socialmente isolados no Centro Histórico de Évora decorre em grande medida do envolvimento do Departamento de Sociologia no Projecto “(Por)Portas e Travessas”.

Na sequência da reunião do CLASE, a docente e uma das estudantes envolvidas na UC foram convidadas a narrar a experiência sob a forma de entrevista. O texto viria a ser publicado na “Évora Local”, a newsletter do município, relativa à quinzena de 28 de Julho a 10 de Agosto de 2015.

evoralocal2015_RC_CTFigura 3 – Destaque na Newsletter “Évora Local” (28 de Julho a 10 de Agosto de 2015) sobre o Projecto “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora”.

Carolina Trindade, uma das estudantes envolvidas, foi quem se voluntariou a participar dessa entrevista. Das suas palavras depreende-se a importância do estudo desenvolvido para uma (nova) implicação dos estudantes com o objecto de estudo, a Sociologia e cidade:

“Foi um trabalho muito interessante porque permitiu aplicar todos os conhecimentos já adquiridos a nível teórico e pô-los em prática. A observação directa foi talvez a fase que nos motivou mais porque estávamos directamente ligados e “mergulhados” na realidade social que estávamos a estudar. Falo pelo meu grupo, mas acho que todos sentimos isso. Foi uma experiência que todos adorámos, colocou-nos mesmo no papel de um sociólogo enquanto investigador. Deu-nos a perceber também um pouco do que será a nossa profissão no futuro, quando estivermos formados e tivermos o nosso trabalho. O que nós notámos, e eu falo pelo meu grupo, é que ao preocuparmo-nos com o quotidiano das pessoas, ao perguntarmos, ao entrarmos um pouco na vida delas, sentem-se de certa forma acarinhadas, sentem que está aqui uma pessoa que teve a iniciativa de tentar mudar algo, de os ouvir.”

Envolver e disseminar

No domínio da intervenção social, o contributo deste exercício passa sobremaneira pela disseminação dos resultados de investigação, os quais podem potenciar novos estudos e projectos. A página web do projecto“(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora”, alojada nos servidores da Universidade de Évora, é parte integrante desta estratégia.

pagina_web_PTFigura 4 – Página web do Projecto “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora”.

Por um lado, a existência de uma página na internet foi decisiva para referência e consulta por parte de qualquer pessoa interessada em conhecer o projecto e o seu contexto institucional, especialmente na fase de recrutamento de entrevistados e observação directa na rua. Por outro lado, a existência desta página envolveu os estudantes mais activamente no projecto, em grande medida como resultado da criação de um mapa interactivo, construído com o auxílio da ferramenta Google Map Maker, no qual todas as ruas (e travessas) foram assinaladas e referenciadas com dados dos estudantes envolvidos. Entre estes dados, e para além da designação do grupo e nome, os estudantes foram incentivados a criar (a rever em alguns casos), um perfil no LinkedIn. Deste modo, sempre que um visitante clica no mapa interactivo pode aceder sob a forma de hiperligação a uma pequena biografia do estudante e, eventualmente, dados de contacto.

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Figura 5 – Mapa de ruas e travessas estudadas no âmbito do Projecto “(Por) Portas e Travessas. Quotidianos do Envelhecimento no Centro Histórico de Évora”.

Num contexto em que a maior parte dos estudantes estão envolvidos em redes sociais orientadas essencialmente para a sociabilidade e lazer (e.g. Facebook, Twitter, Instagram, etc.), a presença na rede profissional LinkedIn possibilita uma disseminação do trabalho em rede e potencia oportunidades de desenvolvimento e cooperação no presente e futuro, já que estas referências podem facilmente ser incorporadas noutras plataformas, nomeadamente no curriculum dos estudantes, e assim partilhadas global e sincronamente.

No que diz respeito à disseminação para a comunidade científica, esta experiência pedagógica esteve também na base de participações através de comunicação oral em reuniões científicas com revisão por pares. A primeira, a nível nacional, compreendeu a participação no CNaPPES.15 – Congresso Nacional de Práticas Pedagógicas no Ensino Superior, realizado no Instituto Politécnico de Leiria (Leiria, Portugal), a 3 de Julho de 2015, e a segunda teve lugar no âmbito do IV Congreso Internacional Ciudades Creativas, realizado em Madrid (Espanha), de 13 a 15 de Janeiro de 2016, na Universidad Complutense de Madrid. Se é certo que a participação em encontros científicos tem um alcance limitado em termos de disseminação de resultados de investigação, sempre condicionado pela dimensão e âmbito do encontro, certo é que a publicação e disponibilização das actas online (García, Guardia & Taborda-Hernández, 2016) vem ampliar consideravelmente esse alcance, possibilitando a sua consulta, leitura e, quiçá, (re)apropriação em novos temas, espaços e tempos.

Conclusão

O exercício apresentado neste artigo descreve uma experiência pedagógica activa, localmente implicada com a comunidade, que cruza ensino, investigação e intervenção social. Enquanto exercício pedagógico, a investigação desenvolvida permitiu, da parte dos estudantes envolvidos, a aprendizagem em profundidade de conhecimentos e competências que compõem o ofício do investigador qualitativo, tal como proposto nos conteúdos programáticos da disciplina que lhe serviu de enquadramento. Transversalmente, ao ser incluído no plano de actividades 2015 do Conselho Local de Acção Social de Évora, este exercício permitiu ainda recolher informação diversa com o objectivo de auxiliar agentes e stakeholders na definição de medidas de política e acção local no quadro da problemática do envelhecimento social.

No contexto específico da intervenção social, o estudo desenvolvido permitiu conhecer novas realidades, discutir resultados de investigação e potenciar oportunidades de trabalho e articulação futura, algumas já em concretização. Para os estudantes e população residente a intervenção social teve significados diferentes mas complementares: se por um lado permitiu devolver resultados de investigação aos investigados e implicar todos na discussão; por outro, permitiu envolver a comunidade académica e sociedade civil, disseminar resultados de investigação no presente e para o futuro.

Em suma, a experiência desenvolvida em torno do estudo das trajectórias sociais, quotidianos e modos de apropriação do espaço da rua por parte dos residentes do centro histórico de Évora não podem senão deixar-nos mais atentos – e ávidos – a novas formas de articulação ensino-investigação-intervenção que promovam e dinamizem políticas de intervenção social ajustadas à diversidade sociocultural. Seja em Évora, seja em qualquer outra cidade.

Agradecimentos

Colaboraram neste trabalho os seguintes estudantes, aos quais a autora agradece a dedicação, empenho e entusiasmo ao longo do semestre par do ano lectivo 2014/15: [A1] Travessa das Tâmaras: Inês Damas, Inês Branco, & Ana Batuca; [A2] Travessa do Pão Bolorento: Daniela Fernandes, Marta Varela, & Márcia Rodrigues; [A3] Rua da Cozinha de Sua Alteza: Filipa Ferreira, Joana Santos, Pedro Ferreira, & Miguel Leitão; [A4] Rua da Graça: Ângelo Rato, Mónica Simões, & Inês Carvalho; [B1] Rua da Oliveira: Andreia Carreteiro, Mara Carvalho, Inês Roque, & Edgar Correia; [B2] Rua 5 de Outubro: Pedro Duarte, Ricardo Borda D’Água, Manuel Cabeça, & António Guerra; [B3] Rua da Mostardeira: Carolina Trindade, Filipa Brazão, Marisa Oliveira, & Inês Almeida; [B4] Travessa das Mechas: Luís Santos, Miguel Esteves, & Afonso Vinagre; [B5] Rua de Mendo Estevens: Cátia Rego, Márcia Arruda, Ana Candeias, & Andreia Grilo; [B6] Travessa do Pocinho: Diogo Reis, Henrique Quadrado, & João Gomes.



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