Introdução
O projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » [FCOMP010124FEDER029509;FCT-PTDC/MHCCED/4007/2012] sustentado teoricamente por uma abordagem contextualista-sistémica do desenvolvimento, que defende que o desenvolvimento humano ocorre através de processos de interação recíproca, progressivamente mais complexos, entre um organismo biopsicológico, ativo, em evolução e as pessoas, objetos e símbolos que fazem parte do seu ambiente imediato (Bronfenbrenner, 2005; Brofenbrenner & Morris, 2006). Neste âmbito, destaca-se quer a relevância das interações, dinâmicas e contínuas, entre os contextos de desenvolvimento mais imediatos da criança (e.g., transações entre o contexto familiar e o contexto de creche), quer a importância das características de cada um dos contextos individualmente, para o desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1979; Bronfenbrenner & Morris, 2006). Tendo por base este quadro conceptual, a investigação tem enfatizado o estudo dos microssistemas (contextos imediatos de desenvolvimento) das crianças em idades precoces, e os resultados têm revelado que a qualidade desses contextos, nomeadamente do ambiente familiar e da creche, estão associadas a resultados desenvolvimentais positivos (Burchinal, Peisner-Feinberg, Bryant, & Clifford, 2000; Burchinal, Roberts, Nabors, & Bryant, 1996). Alguns estudos, particularmente a nível internacional, têm também evidenciado a importância das relações mesossistémicas, isto é, das interações entre os contextos imediatos de desenvolvimento das crianças (Barnes, et al., 2006; Owen, Ware, & Barfoot, 2000; Owen, Klausli, Mata-Otero, & Caughy, 2008). No entanto, a investigação neste domínio é relativamente escassa, especialmente em Portugal.
Este projeto enquadra-se num espaço de interface entre a Psicologia e a Educação, uma vez que, como refere Bairrão (2005, p. 2), é no “espaço de interface” entre as diferentes disciplinas que se pode estudar o “desenvolvimento contextualizado”. Assim, o projeto “Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé” teve como principal objetivo investigar a transição do bebé para a creche no primeiro ano de vida, examinando em que medida variáveis da criança, da família, da creche e a comunicação pais-cuidadores influenciam a qualidade da adaptação do bebé (i.e., envolvimento, comportamento adaptativo e bem-estar do bebé). Mais especificamente, este projeto pretendia: (a) descrever as experiências na creche durante o período de transição, tanto ao nível da qualidade da sala como das práticas de transição; (b) analisar a comunicação pais-profissionais e a sua associação com a adaptação da criança ao longo do tempo; e (c) verificar se a adaptação da criança à creche está associada às características da creche, às características do ambiente familiar e à comunicação pais-cuidadores. Para cumprir os objetivos definidos o estudo utilizou uma abordagem multi-método, tendo o ambiente familiar sido avaliado através de observações e questionários e a creche através de observações e dos relatos dos cuidadores (auxiliares de ação educativa ou educadores de infância); a comunicação pais-cuidador foi avaliada utilizando versões idênticas de questionários para pais e cuidadores; e o desenvolvimento e a adaptação da criança através de diversas medidas, quer de observação direta, quer com base em relatos dos pais e dos cuidadores. Os dados foram recolhidos em três momentos diferentes: (a) M1 – antes da entrada do bebé para a creche, (b) M2 – no primeiro mês de frequência da creche pelo bebé, e (c) M3 – seis meses após a entrada do bebé na creche. A Figura 1 apresenta as variáveis estudadas em cada um dos três momentos de avaliação. Participaram no projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » 90 salas de berçário de 90 creches da grande área metropolitana do Porto (concelhos do Porto, Amarante, Baião, Felgueiras, Gondomar, Lousada, Maia, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Arouca, Espinho, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Vale de Cambra), 90 educadoras de infância ou auxiliares, indicadas como sendo as responsáveis pelas salas participantes, 90 bebés a frequentar estas salas e respetivas famílias (para mais informação, consultar http://familiacreche.ese.ipp.pt/).
Figura 1. Desenho e variáveis do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé”
A recolha de dados do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » iniciou-se em junho de 2013 e terminou em julho de 2014. A divulgação dos resultados do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » foi efetuada essencialmente através da participação da equipa de investigação em encontros científicos nacionais e internacionais, bem como através da publicação de artigos científicos (mais informações em http://familiacreche.ese.ipp.pt/). Estes meios de disseminação permitem que a informação seja partilhada essencialmente com investigadores nacionais e internacionais com interesse nas temáticas do projeto. No entanto, a equipa envolvida nesta investigação considera que, para promover a capacitação dos profissionais e das famílias, é fundamental que os resultados do estudo sejam igualmente partilhados, de forma mais imediata, com os profissionais que desenvolvem a sua atividade profissional nas creches e com as famílias que têm crianças pequenas. Assim, foi planeado um “workshop” especificamente com este objetivo e para esta população.
A investigação destaca que a formação (inicial e em serviço) dos profissionais de educação é um fator importante para a promoção da qualidade dos contextos educativos (Burchinal, Cryer, Clifford, & Howes, 2002; Lino, 2014). Por exemplo, alguns estudos demonstram que a formação específica em educação e desenvolvimento, bem como a formação contínua dos profissionais, estão positivamente correlacionadas com prestação de cuidados de maior qualidade em contextos educativos (Burchinal et al., 2002; Norris, 2001). Na literatura é amplamente aceite que a promoção do desenvolvimento profissional é a forma mais eficaz para preparar adequadamente os profissionais, após a sua entrada no mundo do trabalho, permitindo-lhes melhorar as suas práticas (Buysse & Hollingsworth, 2009; Buysse, Winton, & Rous, 2009; Byington & Tannock, 2011;National Professional Development Center of Inclusion, 2008). Assim, no planeamento do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, a equipa do projeto “Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé” procurou utilizar alguns dos princípios dos programas de desenvolvimento profissional considerados mais eficazes. Foram definidos os seguintes objetivos para o “workshop”: (a) partilhar com os participantes do projeto os principais resultados da investigação e, assim, cumprir um compromisso assumido aquando da apresentação dos pedidos de participação no projeto às famílias e às creches; (b) contribuir para a capacitação dos profissionais e das famílias para desenvolverem interações de elevada qualidade com os bebés nas suas práticas diárias, bem como para estabelecerem parcerias pais-cuidadores de elevada qualidade; (c) envolver famílias e profissionais de creches num diálogo colaborativo e reflexivo sobre as experiências e os desafios que as crianças, famílias e profissionais vivenciam no período de transição dos bebés do contexto familiar para a creche. Este “workshop” foi incluído num evento mais alargado – « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » – em que participaram outros profissionais de creches e famílias de bebés, para além dos participantes no projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé », bem como investigadores e outros interessados (o programa do encontro pode ser consultado em http://familiacreche.ese.ipp.pt/).
Objetivos
Neste trabalho pretende-se apresentar o “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, focando e descrevendo o processo de planeamento e de desenvolvimento do mesmo. Mais especificamente, é objetivo deste artigo apresentar a metodologia utilizada – World Café Methodology –, os materiais desenvolvidos (questões, tarefas e materiais), a preparação do espaço e a organização dos participantes. São ainda apresentadas algumas reflexões relativas à forma como o “workshop” foi desenvolvido, destacando-se os pontos fortes da metodologia escolhida. Pretende-se também refletir, brevemente, sobre o contributo deste “workshop” para a promoção da qualidade do diálogo colaborativo entre famílias e profissionais das creches a trabalhar com bebés.
De acordo com uma abordagem ecológica do desenvolvimento, o modelo de desenvolvimento profissional privilegia o planeamento de momentos de formação focados nas práticas e nos contextos de trabalho. Este modelo de formação contínua e em serviço destaca o papel dos contextos, bem como a pertinência do envolvimento de todos os que trabalham direta ou indiretamente com as crianças, nomeadamente educadores/professores, auxiliares, pais/famílias, diretores, coordenadores, entre outros, promovendo ligações entre o desenvolvimento profissional e o desenvolvimento da própria instituição (Lino, 2014). Assim, a apresentação da metodologia deste “workshop”, bem como das temáticas abordadas e dos materiais desenvolvidos constituem, de acordo com a nossa opinião, uma oportunidade para partilhar com profissionais da área da educação e da formação uma metodologia que se revelou adequada e geradora de aprendizagens e de reflexões conjuntas por parte de pais, educadores de infância e auxiliares de ação educativa a trabalhar com crianças entre os 4 e os 12 meses de idade.
A metodologia “World café”: características e princípios
A metodologia “World Café” é descrita como uma forma fácil de criar uma rede “viva” de diálogo colaborativo sobre questões pertinentes da realidade (Slocum, 2005). Amplamente utilizada para dar resposta a objetivos específicos no âmbito da promoção do desenvolvimento profissional na área empresarial (e.g., Creative Cafés, Knowledge Cafés, Strategy Cafés, Leadership Cafés, Marketing Cafés, Product Development Cafés), esta é uma metodologia a que cada vez mais formadores de diversas áreas recorrem, devido às suas características e aos resultados obtidos no âmbito da promoção do desenvolvimento profissional e da resolução criativa de problemas (Brown, 2002; Brown, Isaacs, & the World Café Community, 2005; World Café Community, s.d.).
As “conversas de café” constituem uma metáfora provocadora que permite explorar novas formas de fazer a diferença, assentando no princípio de que as conversas entre as pessoas estão imbuídas de um poder invisível e natural que, muitas vezes, é ignorado ou subvalorizado (Brown et al., 2005; World Café Community, s.d.). Assume-se que, quando cada indivíduo passa da conversa de uma mesa para a conversa de outra mesa, ocorre todo um conjunto de aprendizagens e de escolhas ativas. Na metodologia “World Café” salienta-se o poder das conversas destacando que as redes de “conversações ao vivo” são os processos primordiais para a partilha do conhecimento coletivo, sendo ainda incitadoras de mudanças futuras (World Café Community, s.d.).
A dinâmica criada pelo “World Café” é particularmente útil quando se pretende envolver um grupo de pessoas num processo de diálogo autêntico, com o objetivo de gerar e partilhar conhecimentos, estimular pensamentos inovadores e explorar possíveis ações sobre questões ou problemas da vida real. Esta metodologia pode ser utilizada quer com grupos de pessoas que se conhecem previamente ou com grupos de pessoas que estão em contacto pela primeira vez (Slocum, 2005).
Planeamento e desenvolvimento do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Participantes do “workshop”
Considerando que o “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada” surgiu no âmbito do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé », este destinou-se exclusivamente aos participantes do referido projeto. Assim, os profissionais das creches (N = 90) da grande área metropolitana do Porto e as 90 famílias que participaram no estudo foram convidados a participar. Na sequência deste convite, inscreveram-se no “workshop” 46 pessoas, incluindo 11 pais de bebés que participaram no projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé », bem como 17 educadores de infância, 8 auxiliares de ação educativa, e 8 coordenadores/diretores e 2 psicólogos de instituições que participaram no referido projeto de investigação. Como se pode ver na Figura 2, a maioria dos participantes inscritos tinha formação superior em educação de infância (37%), mas o “workshop” contou também com a inscrição de auxiliares de ação educativa (24%), de outros profissionais das creches (21%) (por exemplo, psicólogos, coordenadores e diretores das creches) e de pais de bebés (18%).
Figura 2. Participantes no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
As pessoas inscritas foram previamente organizadas em grupos, tal como é definido nas características da metodologia “World Café” (explicitada na secção seguinte deste artigo). Os grupos (n = 8) foram, posteriormente, distribuídos aleatoriamente pelas mesas temáticas do “workshop”. As 8 mesas encontravam-se distribuídas por 2 salas diferentes, sendo que, em cada sala, cada uma das 4 mesas focava uma temática diferente a ser discutida por cada grupo de participantes. As temáticas eram as mesmas nas duas salas. Em cada sala, cada grupo de participantes discutia a temática das mesas que lhe tinha sido atribuída durante 15 minutos. No final deste tempo os grupos dirigiam-se para uma outra mesa da sala para discutir uma outra temática.
Durante a organização dos participantes pelos grupos, foi assegurado que cada grupo tinha, na sua constituição, pelo menos um pai/mãe, uma auxiliar de ação educativa e uma educadora. Com esta organização pretendia-se enriquecer e aprofundar as discussões com os contributos das diferentes experiências e dos diferentes pontos de vista de cada elemento do grupo sobre as temáticas abordadas, promovendo uma comunicação aberta entre pais, educadores, auxiliares de ação educativa e outros profissionais (e.g., diretores e/ou coordenadores das creches e psicólogos).
Operacionalização das componentes da dinâmica “World Café” no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
A metodologia “World Café” pode ser modificada de forma a dar resposta a uma variedade de necessidades, sendo, assim, possível adaptá-la às especificidades do contexto onde vai ser desenvolvida (e.g., número de participantes, objetivo, local, questões), embora existam cinco componentes do modelo que devem ser consideradas no planeamento da sua utilização, nomeadamente: (a) preparação do ambiente, (b) introdução e boas-vindas, (c) organização das rondas, (d) definição das questões/desafios-chave e (e) organização da partilha em grande grupo. De seguida, explicitamos cada uma destas componentes, esclarecendo como foram operacionalizadas no âmbito do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”.
Preparação do ambiente. Considerando a metodologia “World Café”, é importante criar um “ambiente especial” para envolver os participantes e cumprir os objetivos propostos. Assim, deve procurar-se recriar um ambiente semelhante ao de um café, isto é, com pequenas mesas redondas cobertas com toalhas axadrezadas, coloridas ou de papel, blocos de notas (ou outro material para escrever, “posters”, imagens, “clip charts”…), marcadores e, por exemplo, um pequeno vaso com flores e chávenas de café (World Café Community, s.d.). Preferencialmente, cada mesa deve ter cerca de 4/5 cadeiras, à semelhança do que acontece em muitos cafés típicos. A preparação de todo este ambiente baseia-se no facto de que, se questionarmos alguém sobre o local onde tiveram as conversas mais significativas, muitos recordarão as conversas que tiveram à volta da mesa da cozinha, da mesa de jantar ou à volta da mesa de um pequeno e acolhedor café. Este ambiente informal, com pequenas mesas cobertas por toalhas axadrezadas é claramente diferente do ambiente típico de uma reunião de trabalho ou de uma formação e, segundo a World Café Community (s.d.), potenciará a fluidez das conversas. No caso do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, a equipa procurou alterar o formato tradicional das duas salas de aula onde a sessão decorreu, organizando as mesas para comportarem pequenos grupos (5/6 cadeira por grupo). Tal como sugerido pela metodologia utilizada, as mesas foram cobertas por toalhas de papel (construída em papel de cenário), onde os participantes podiam tomar notas sobre os seus pensamentos e reflexões. Cada mesa dispunha, ainda, de algum material de escrita (marcadores) e post-its de cores e formatos variados.
Introdução e boas-vindas. É importante receber os participantes, dando-lhes as boas vindas de uma forma calorosa. Neste momento deve ainda ser feita uma breve introdução ao “workshop”, durante a qual é apresentado todo processo relacionado com a dinâmica “World Café”, são esclarecidas as dúvidas e as questões dos participantes e são fornecidas todas as indicações necessárias para o desenrolar das atividades. No caso do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, a equipa organizadora optou pela receção de todos os participantes em grande grupo (posteriormente distribuídos por duas salas diferentes), tendo preparada uma breve apresentação onde foram explicitados os procedimentos e as regras da dinâmica que se seguiria.
Organização das rondas. Geralmente, a metodologia “World Café” está organizada em três ou mais rondas de conversação. Inicialmente, o pequeno grupo de pessoas senta-se à volta de cada mesa. Ao fim de cerca de 20 minutos os membros de cada grupo movem-se para uma mesa diferente. Na primeira ronda, o grupo pode decidir se um dos seus elementos permanece ou não na mesa, assumindo o papel de “anfitrião”, recebendo o grupo que se segue, ronda após ronda, e explicando brevemente ao novo grupo de pessoas o que aconteceu na(s) ronda(s) anterior(es).
No caso específico do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, a dinâmica foi organizada em quatro rondas, equivalentes às quatro mesas de cada sala, tendo, cada uma das mesas, um desafio-chave diferente. Definiu-se que cada ronda duraria 15 minutos, isto é, cada grupo teria 15 minutos para conversar sobre a temática/desafio de cada mesa antes que fosse solicitado aos grupos que se levantassem e se deslocassem para a mesa/temática seguinte (ver Figura 3). Foi ainda previamente definido e explicado aos participantes que, na primeira ronda, deveriam escolher um elemento do grupo para assumir o papel de “anfitrião” da mesa. Para além do anfitrião de cada mesa (escolhido de entre os participantes no “workshop”), cada mesa contou ainda com um elemento da organização que assumiu, sempre que necessário, o papel de facilitador da conversa. Este tinha ainda a função de ajudar o grupo a focar-se ou moderar as trocas de opiniões relativas às questões mais controversas.
Figura 3. Organização das rondas do Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Definição das questões. Na dinâmica “World Café”, cada ronda começa, habitualmente, com uma questão que pretende ajudar os participantes a focar as conversas e a cumprir os objetivos da sessão. Uma mesma questão pode ser utilizada em mais do que uma ronda, ou os participantes podem elaborar outras questões a partir das reflexões do(s) grupo(s) anterior(es), com o objetivo de orientar as conversas e aprofundar as discussões. No “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, considerando o número de participantes e os objetivos desta sessão, foram organizadas quatro rondas/mesas, tendo cada uma um tema relevante analisado no projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé »: (a) Envolvimento de bebés em creche (mesa 1); (b) Organização do espaço e das rotinas em creche (mesa 2); (c) Comunicação família-creche (mesa 3) e (d) Transição do bebé do contexto familiar para a creche (mesa 4).
Assim, e no sentido de criar uma ligação entre as “mesas”/ “grupos de conversa”, foi elaborada a descrição de um caso concreto de uma sala de creche/bebé/família, na qual surgiam várias situações-problema que poderiam orientar as conversas, focando-as, se necessário. Para além disto, cada uma das quatro rondas/mesas tinha um conjunto de questões estímulo que pretendiam incitar e focar as conversas de cada ronda num tópico pertinente/problema do caso apresentado. O “caso do Francisco” e as questões apresentadas em cada uma das 4 mesas são explicitados abaixo. Considerando o objetivo deste “workshop”, i.e., partilhar com os participantes do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » alguns dos resultados encontrados, salientamos que: (1) o caso elaborado baseou-se nos resultados das observações realizados nos contextos de creche ao longo do projeto; (2) as questões e materiais desenvolvidos para as temáticas a explorar em cada mesa foram também elaborados quer com base na literatura, quer com base nos resultados encontrados no projeto (e apresentados em várias comunicações em encontros científicos nacionais e internacionais; http://familiacreche.ese.ipp.pt/). Para além disto, os facilitadores de cada mesa dispunham de um conjunto de informações/resultados que deveriam apresentar à mesa durante as discussões do grupo (e.g., na mesa 3 ao discutir a questão relativa aos obstáculos e estratégias para melhorar a comunicação família-creche, os facilitadores poderiam partilhar, entre outras, a seguinte informação: os resultados do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » mostraram que há uma tendência para que quando as crianças passam mais horas na creche por dia, os educadores percecionam uma menor frequência de comunicação com os pais dessas crianças).
O caso do Francisco: descrição. O caso do Francisco é fictício e foi elaborado exclusivamente para ser utilizado no âmbito do “workshop”. Procurou-se, na descrição do caso, apresentar algumas situações que retratassem a realidade vivida nas creches/famílias. Estas situações basearam-se nas observações realizadas durante o projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » e na experiência e conhecimentos da equipa organizadora. Neste caso colocavam-se, também, alguns desafios visando a discussão de aspetos/práticas internacionalmente recomendadas e de características relevantes a considerar quando o objetivo é assegurar a qualidade das salas de berçário. Considerando que, para além de profissionais a trabalhar em contexto de creche, o “workshop” contava também com a participação de pais de bebés a frequentar a creche, foram incluídas questões relevantes, quer para profissionais, quer para famílias de bebés. A versão final da descrição do caso apresentado é transcrita na Figura 4.
Figura 4. Transcrição do “Caso do Francisco” utilizado no Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Mesa 1. Envolvimento de bebés em creche. A mesa 1 teve como tópico de conversa o “Envolvimento de bebés em creche”, uma vez que o envolvimento foi uma das variáveis chave do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » e a literatura enfatiza o seu papel no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças, desde as idades mais precoces (e.g., McWilliam & Casey, 2008; Pinto, 2006). Assim, é amplamente reconhecido que as crianças pequenas aprendem através da participação ativa em brincadeiras e noutras atividades que ocorrem nos seus ambientes naturais, como a creche ou o ambiente familiar (National Association for the Education of Young Children [NAEYC], 2009). Vários estudos têm demonstrado associações entre o envolvimento e resultados desenvolvimentais das crianças, sugerindo que o envolvimento é uma condição necessária para que exista mudança desenvolvimental e é, simultaneamente, um indicador contemporâneo desta mudança (e.g., Raspa, McWilliam, & Ridley, 2001). Adicionalmente, a literatura evidencia que o envolvimento é uma variável relevante na explicação das relações entre a qualidade do ambiente educativo e os resultados desenvolvimentais das crianças (Pinto, 2006; Raspa et al.,2001). Assim, reconhece-se que o envolvimento das crianças é uma medida do seu desempenho individual, ilustrando a qualidade das suas experiências de vida diária em contextos naturais. No projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé », o envolvimento foi definido como a “implicação da criança em interações com o ambiente físico, com materiais ou com outras pessoas, de forma adequada às situações” (Bailey & Wolery, 1992, p. 37) e o papel do adulto na promoção do envolvimento das crianças foi particularmente destacado. As interações que os adultos estabelecem com os bebés são extremamente importantes, uma vez que estes precisam de contar com os seus prestadores de cuidados para satisfazer as suas necessidades mais básicas (e.g., alimentação, higiene, carinho). Assim, os prestadores de cuidados – sejam eles pais, educadores de infância ou auxiliares de ação educativa – devem ser responsivos e sensíveis às necessidades e interesses das crianças. A literatura refere mesmo que, no caso dos bebés (i.e., crianças com menos de 12 meses de idades), a responsividade e a sensibilidade dos adultos são dois aspetos críticos, quer da qualidade do ambiente familiar, quer da qualidade do ambiente educativo/creche (e.g., NAEYC, 2009). As questões/tarefas apresentadas na mesa 1 são descritas na Figura 5.
Figura 5. Questões apresentadas à mesa 1 do Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Para além da descrição do caso (comum a todas as mesas), a mesa 1 dispunha do seguinte material: cartão com as questões da mesa; cartões com imagens de comportamentos interativos dos adultos; cartões com imagens de brinquedos que podem ser utilizados para promover o envolvimento das crianças; desenho da planta da sala na toalha de papel que cobria a mesa (ver Figura 6).
Figura 6. Materiais da mesa 1 – Envolvimento de bebés em creche - Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Mesa 2. Organização do espaço e das rotinas em creche. A mesa 2 teve como tópico de conversa a “Organização do espaço e das rotinas em creche”. Este é um tema pertinente, particularmente quando falamos em qualidade dos contextos de creche, sendo vários os aspetos que devem ser considerados quando se planifica a organização do espaço e das rotinas para uma sala de berçário. Para além da importância das relações cuidador-criança, amplamente referidas na literatura como aspeto-chave da qualidade dos ambientes educativos (e que foram abordadas nas questões definidas para a mesa 1 deste “workshop”), é igualmente aceite que a disponibilização de uma diversidade de materiais, de um espaço adequado e de materiais e atividades apropriados à idade das crianças, são aspetos relevantes do ambiente na promoção do desenvolvimento e do bem-estar das crianças (e.g., Barros & Leal, 2015; NAYEC, 2009; Harms, Cryer, & Clifford, 2006; Portugal, 2012) Assim, é reconhecida a importância do espaço, sendo que poderá ser muito difícil proporcionar cuidados de elevada qualidade quando o espaço e equipamentos da sala estão em mau estado, quando o espaço não está limpo ou quando existem poucos brinquedos ou brinquedos desadequados para o grupo de crianças (Cochran, Cochran, & Trop, 2000).
As práticas adequadas ao desenvolvimento resultam de processos de tomada de decisão dos profissionais relativamente ao bem-estar das crianças, sendo por isso importante consciencializá-los relativamente ao impacte das suas decisões nas interações que estabelecem com as crianças e na forma como idealizam e organizam o espaço e como selecionam e disponibilizam os brinquedos na sala. Numa creche de elevada qualidade, é expectável que o ambiente seja seguro e saudável para a aprendizagem e o desenvolvimento, bem como adequado para satisfazer as necessidades dos bebés, da famílias e dos profissionais (Harms et al., 2006).
As questões/tarefas apresentadas à mesa 2 são apresentadas na Figura 7.
Figura 7. Questões apresentadas à mesa 2 – Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada »
Para além da descrição do caso e do cartão com as questões propostas, a mesa 2 dispunha da planta de uma sala de berçário e de vários cartões que, no seu conjunto, listavam uma série de brinquedos e de outros materiais e áreas que poderiam ser combinados e organizados numa sala de berçário. A mesa dispunha, também, de uma folha para registo do horário da sala (ver Figura 8).
Figura 8. Materiais da mesa 2 – Organização do espaço e das rotinas em creche – Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Mesa 3. Comunicação família-creche. A mesa 3 teve como tópico de conversa a “Comunicação família-creche”. O papel da relação família-creche e a importância da continuidade e da qualidade destas relações para o desenvolvimento e adaptação da criança é amplamente reconhecido (Bronfenbrenner, 2005; Drugli & Undheim, 2012; Owen, Klausli, Mata-Otero, & Caughy, 2008; Shpancer, 1999), nomeadamente quando o foco são os cuidados e a educação de crianças entre os 0 e os 3 anos de idade (NAYEC, 2009; Portugal, 1998; Segurança Social, 2010). A literatura destaca também que a comunicação família-creche pode ser particularmente relevante no momento da transição do contexto familiar para o contexto de creche (Peixoto et al., 2014), considerando que este é um período em que as famílias, as crianças e os profissionais se deparam com desafios exigentes relacionados com a separação e a adaptação a novos ambientes, pessoas e rotinas (Daniel & Shapiro, 1996). A comunicação entre os pais e os prestadores de cuidados tem vindo também a ser identificada como uma característica dos contextos de educação e cuidados de elevada qualidade (Ghazvini & Readdick, 1994) e a literatura relata que, quer os pais, quer os educadores valorizam o estabelecimento de parcerias entre a família e a creche (e.g., Leavit, 1995; Coelho et al., no prelo). Assim, este parece ser um tópico relevante para pais e profissionais com crianças em contexto de creche.
As questões/tarefas apresentadas à mesa 3 são apresentadas na Figura 9.
Figura 9. Questões apresentadas à mesa 3 – Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Para além da descrição do caso e do cartão com as questões propostas, a mesa 3 dispunha de material de escrita (marcadores, “post-its”), sendo os participantes incentivados a colocar, na toalha/papel da mesa, as reflexões, questões e soluções propostas pelos diferentes elementos dos grupos em cada ronda (ver Figura 10).
Figura 10. Material da mesa 3 – Comunicação família-creche – Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Mesa 4. Transição do contexto familiar para a creche. A mesa 4 teve como tópico de conversa a “Transição do bebé do contexto familiar para a creche”. Este processo de transição é, tal como referido na literatura, um momento particularmente exigente para pais, bebés e profissionais das creches (Daniel & Shapiro, 1996; Peixoto et al., 2014), e são várias as recomendações para que as creches e as famílias planeiem cuidadosamente esta transição (e.g., Segurança Social, 2010). A literatura apresenta uma listagem de práticas que podem ser facilitadoras da transição dos bebés do contexto familiar para o contexto de creche, destacando que este é um processo que deve ser pensado e iniciado antes da entrada do bebé para a creche, e continuado durante as primeiras semanas de frequência da creche. De acordo com esta especificação, Peixoto et al. (2014), partindo de uma revisão da literatura, organizaram uma listagem de práticas que podem ser realizadas antes e após a entrada dos bebés na creche e destacaram a importância do estabelecimento de relações de parceria entre creches e famílias para um planeamento cuidado e adequado da entrada do bebé no berçário.
As questões/tarefas apresentadas à mesa 4 são apresentadas na Figura 11.
Figura 11. Questões apresentadas à mesa 4 – Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Para além da descrição do caso (comum a todas as mesas) e de um cartão com as questões propostas, a mesa 4 dispunha de cartões com as práticas de transição identificadas na literatura como facilitadoras do processo de transição dos bebés para a creche, organizadas em dois grupos: (a) práticas a desenvolver antes da entrada do bebé na creche e (b) práticas a desenvolver durantes as primeiras semanas de frequência da creche (ver Figura 12).
Figura 12. Material da mesa 4 – Transição do contexto familiar para a creche – Word Café no “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”
Organização da partilha em grande grupo. Após as rondas/conversas nas mesas, a metodologia “World Café” implica que cada indivíduo seja convidado a partilhar as suas reflexões ou outros aspetos resultantes das discussões em pequeno grupo, com o grande grupo. Estes resultados podem ser partilhados oralmente e complementados com informação visual (e.g., gráficos, notas, desenhos) que os grupos tenham produzido ao longo das rondas. No caso do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, este momento foi organizado em grande grupo – semelhante ao momento inicial de “Introdução e boas-vindas”. O “anfitrião” de cada mesa foi o principal responsável por apresentar as principais conclusões da mesa com o grande grupo, tendo depois a discussão sido aberta aos restantes participantes do “workshop” que comentaram ou complementaram as reflexões partilhadas. No ficheiro áudio 1 pode consultar-se um exemplo dos comentários e discussão gerada no momento de partilha em grande grupo. Neste caso em particular, as conclusões foram apresentadas por uma educadora de infância e pelo pai de um bebé a frequentar uma creche.
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Aúdio 1. Exemplo da partilha em grande grupo dos anfitriões da mesa 3
Discussão e Considerações Finais
A legislação portuguesa prevê que, quando se desenvolve uma investigação é dever da equipa que conduz o estudo proporcionar, aos participantes, a oportunidade para obterem informação correta sobre os objetivos, resultados e conclusões da investigação (Regulamento n.º 258/2011, de 20 de abril). Mais do que disponibilizar apenas a informação sobre os resultados da investigação, a equipa do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » considera que os resultados das investigações devem ser refletidos pelos participantes para que cada elemento possa repensar as suas próprias práticas.
No “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada”, os resultados do projeto « Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé » foram o mote para reflexões importantes sobre o quotidiano das creches portuguesas e sobre os desafios com que pais, bebés e profissionais dos contextos de creche (sejam estes educadores de infância, auxiliares de ação educativa, psicólogos,..) se deparam diariamente na gestão das suas vidas pessoais e profissionais.
A pertinência dos temas escolhidos, bem como a escolha da metodologia “World Café” para o desenvolvimento da sessão foram referidas, nas avaliações realizadas, como aspetos muito positivos do “workshop”. Os participantes avaliaram o “workshop” através de comentários escritos em “post-its” que colaram num painel, após a partilha em grande grupo das principais conclusões das mesas/rondas de discussão (ver Figura 13). Os participantes escreveram avaliações positivas, tais como: «Gostei muito deste encontro, da maneira como foi organizado e dos temas abordados. Achei enriquecedora a troca de ideias no “workshop”»; “O tema foi interessante e a dinâmica muito proveitosa”; “A apreciação é bastante positiva. Esperamos ansiosamente pela data do 2º encontro”; “Um grande momento de partilha de ideias, práticas e conhecimentos que elevam a qualidade”. Todos os participantes forneceram um “feedback” muito positivo relativamente ao “workshop”, incluindo os pais (e.g., “Muito enriquecedor enquanto mãe …”) e as auxiliares de ação educativa (e.g., « Foi muito enriquecedor. Gostei imenso. Obrigada pelo reconhecimento”). A criação de grupos mistos (i.e., grupos compostos por educadores de infância, pais, auxiliares de ação educativa e outros profissionais), foi também um ponto referido pelos participantes na avaliação realizada, tendo estes considerado esta distribuição positiva (e.g., “Foi muito importante a oportunidade de conversar e trocar ideias com pais e outros profissionais”).
Figura 13. Exemplos de mensagens de avaliação dos participantes acerca do “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada »
Os materiais desenvolvidos pela equipa (e.g., a descrição do caso apresentado, as questões apresentadas às mesas, os materiais manipuláveis como os cartões da mesas 1 e 4 a planta da sala da mesas 2) também parecem ter sido adequados aos participantes do “workshop”, bem como aos objetivos que a equipa tinha definido para a sessão. Em cada mesa, os materiais manipuláveis suscitaram o interesse dos participantes que discutiram as questões propostas e utilizaram ativamente os materiais para exemplificar, sistematizar e dar forma ao que era verbalizado. Um outro indicador da pertinência e utilização ativa do material desenvolvido, foi o facto dos anfitriões de cada mesa terem recorrido aos materiais (papel de cenários, cartões, post-its, planta da sala), no momento de grande grupo, para apresentarem as principais conclusões da sua mesa. Cada anfitrião explicou como o material foi sendo “alterado” na sequência das várias discussões de cada grupo que passou pela mesa. Assim, considera-se que foi fundamental para a concretização dos objetivos do “workshop”, o facto de a equipa ter adotado, no planeamento desta sessão, alguns princípios que são descritos na literatura sobre a forma como os adultos aprendem. Collins (2004) refere que a aprendizagem dos adultos é mais do que um processo cognitivo. O autor salienta que a aprendizagem/formação de adultos é mais eficaz quando: (a) os próprios adultos são agentes ativos na construção do conhecimento, e as tarefas propostas partem dos conhecimentos prévios dos profissionais, possibilitando o estabelecimento de ligações entre as experiências anteriores e a informação “nova”; (b) os adultos são encarados como parceiros na construção do conhecimento e no processo de aprendizagem em que estão envolvidos
Importa igualmente considerar que os adultos se envolvem mais no processo de aprendizagem e de construção de conhecimentos quando a formação vai ao encontro das suas necessidades pessoais e quando os conteúdos da formação são passíveis de serem integrados nas situações reais da sua prática profissional (Collins, 2004), o que parece ter acontecido no “workshop” “Bebés, famílias e Creches: uma conversa animada”. Os adultos beneficiam de formações focadas na promoção do seu crescimento pessoal e profissional e que se desenvolvam num ambiente confortável, seguro e de respeito pelos conhecimentos e experiências que cada elemento traz para o espaço da formação (Byington & Tannock, 2011; Collins, 2004). Byington e Tannock (2011) referem que, se estes princípios relativos à forma como os adultos se envolvem nas aprendizagens forem utilizados, as experiências de desenvolvimento profissional podem potenciar resultados mais positivos na mudança efetiva de práticas.
É importante clarificar que o “workshop” “Bebés, Famílias e Creches: uma conversa animada” pretendia proporcionar um espaço de reflexão, de partilha e de construção de conhecimentos. A equipa organizadora está, no entanto, consciente que a mudança de práticas, numa lógica de desenvolvimento profissional, implicaria um trabalho mais continuado e desenvolvido nos contextos reais de trabalho, para além de focado nas práticas profissionais, como o que aqui foi descrito (que se limitou a uma sessão isolada). No entanto, consideramos que, o facto de terem sido considerados alguns princípios referidos na literatura e associados a programas de desenvolvimento profissional eficazes revelou, revelou ser relevante na satisfação e envolvimento dos participantes no “workshop”. Nomeadamente o facto de este “workshop” ter partido de uma experiência concreta, que retratava dificuldades e sucessos reais dos participantes, foi fundamental para a construção de conhecimento prático, expresso nas reflexões que os anfitriões de cada mesa de trabalho partilharam com o grupo mais alargado no final do “workshop”.
Destacamos, ainda, que programas de formação/desenvolvimento profissional que incluam, entre outras características recomendadas na literatura, momentos significativos de aprendizagem como os que foram proporcionados no âmbito do “workshop” aqui apresentado, são fundamentais. Atualmente reconhece-se que a educação e a formação dos profissionais a desenvolver funções em contextos de educação e desenvolvimento é uma característica importante da qualidade dos próprios contextos. Assim, é importante pensar a formação de profissionais como um processo constante, que começa com a formação inicial e se perpetua ao longo de toda a vida profissional (Day, 2001), uma vez que as experiências de formação e de desenvolvimento profissional podem ser promotoras de mudanças, contribuindo para melhorar a qualidade das práticas dos profissionais e, consequentemente, a qualidade global dos contextos educativos.
Conscientes das limitações deste “workshop” no que se refere ao seu contributo para o desenvolvimento profissional, destacamos, no entanto, que os participantes consideraram que este momento contribuiu para refletirem sobre problemas práticos do seu quotidiano, tendo pais e profissionais comunicado abertamente durante a sessão, discutindo opiniões e apresentando as suas expectativas e necessidades sentidas diariamente na relação creche-família. Assim, este “workshop” parece ter despoletado, aos seus participantes, a consciência da importância de se envolverem em diálogos progressivamente mais abertos e colaborativos no seu dia-a-dia relativamente aos cuidados e educação dos bebés (quer no contexto familiar, quer no contexto de creche). Famílias e creches puderam ouvir e expressar as dificuldades e anseios com que se deparam, particularmente no período de transição dos bebés do contexto familiar para a creche, refletindo sobre possíveis estratégias para dar resposta aos desafios que surgem. Como se pode ouvir no ficheiro Áudio 1, a discussão das temáticas relacionadas com a qualidade das creches, o envolvimento dos bebés e as necessidades das creches e dos pais na gestão do processo de comunicação – muitas vezes influenciados por políticas ao nível das creches, como por exemplo a ausência de autorização dos pais para entrar nas salas ou das auxiliares de ação educativa (que passam mais tempo com os bebés) para reunirem com os pais, ou mesmo as dinâmicas e horários familiares – parece ter sido significativa para os pais, as educadoras e as auxiliares de ação educativa que expressaram as suas opiniões, partilharam as suas dúvidas, dificuldades e estratégias de resolução dos problemas em discussão.
Por fim salientamos que, apesar do reconhecido dever dos investigadores facultarem informação sobre os resultados e as conclusões da investigação aos participantes dos estudos que desenvolvem, não é ainda comum que se organizem momentos como o que aqui foi apresentado. Este foi um momento de partilha direta e presencial com os participantes do estudo, que permitiu que estes acedessem às principais conclusões do projeto, apenas alguns meses após a conclusão do último momento de recolha de dados. Adicionalmente, este “workshop” revelou ser inovador e muito pertinente pois, tal como reforçado pelos participantes do mesmo, existe ainda pouca formação específica – sobre aspetos do desenvolvimento e da educação de bebés em creche – disponível para os profissionais das creches, particularmente para auxiliares de ação educativa. Assim, foi particularmente interessante e enriquecedor juntar, numa mesma “discussão”, adultos que interagem diretamente com os bebés em diferentes contextos de desenvolvimento, isto é, pais, educadores de infância e auxiliares de ação educativa.