Sensos-e Vol: 0  ISSN 2183-1432
URL: http://sensos-e.ese.ipp.pt/?p=3467

Family´s Involvement in the Transition for Primary School of Childrens with Special Needs Support: the Contribition of a Portfolio

Author: Joana Pinto Afiliation: Nenhuma
Author: Sanches-Ferreira Afiliation: ESEP

Abstract: The inclusive education prospect, conceiving the attendance of regular school as a right for all, led to the search of strategies focused on promoting the shift from a "right of equality access" to a "right of results’ equity view", which implies to qualify educational spaces in order to make them quality spaces. In this process, the transitions between contexts, especially the transition from kindergarten to primary school represents one of the most significant changes in the children’s education.
The Family Assessment Portfolios (Family Assessment Portfolios), started by parents of children with NAS in the United States of America (USA), emerged as a facilitating methodology of the transitions between educational contexts, and have been shown to contribute to their empowerment, in other words, it appears as supporting environment for the child.
Based in this direction, the present study describes the process of building the portfolio of a 5 year old child in transition to Primary School.
The objective of this project was to enable the family to provide the information they considered essential to familiarize new staff and peers with his son, and thus transform the transitions into processes of continuity of involvement and participation.
This study consisted of a weekly trip to the family home to facilitate the process and organize the information. In these meetings it were recorded the most important information, as well as the feelings and expectations that were being raised throughout the process. In the topic "What I can do" it were also involved the teacher and classmates. The results indicated that the family, as well as having considered a gain for itself the process of building the portfolio, as mentioned how it has highlighted the positive aspects and not only the more negative aspects, related to the dimensions where the child showed more difficulties.
Also the educator teacher emphasized how her participation in the portfolio had helped her to look beyond of the normal, see more than she usually seen in the study’s children and to develop the relationship with the family.
She also added that it was a class that already interacted a lot with the child but the sharing of the portfolio and viewing the film in class had allowed that his partners have a more positive perception about their friend, visible in the largest number of interactions, but especially in the increase number of acts of help, which, according to the teacher, was demonstrative of a greater attention to his needs.
Finally the family and the teacher agreed that the portfolio would, surely, contribute to help the transition to the next educational context not being a rupture’s moment, but rather a continuity process.
The results of our study are therefore consistent with those described in the literature about the use of this methodology in the preparation of transitions or even the first entry in the contexts of formal education, which suggests the practice of their widespread among households with children with additional needs’ support.

Keywords: Portfolio, Family, School

Family´s Involvement in the Transition for Primary School of Childrens with Special Needs Support: the Contribition of a Portfolio

Author: Joana Pinto Afiliation: Nenhuma
Author: Sanches-Ferreira Afiliation: ESEP

Introdução

Os novos modelos conceituais para a compreensão da incapacidade, nomeadamente o Modelo de Ajuste Pessoa – Ambiente (Thompson, 2010) têm contribuído para a promoção de práticas profissionais que melhoram as experiências e os resultados dos alunos com Necessidades Adicionais de Suporte (NAS).

Numa perspetiva do Modelo de Ajuste Pessoa – Ambiente, a incapacidade intelectual é caraterizada por limitações no funcionamento intelectual, que resultem em suportes extraordinários para os indivíduos, ou seja, suportes que as pessoas da população em geral não necessitem para participar nas atividades do dia a dia (Thompson, 2010). Este modelo centra-se na compreensão dos pontos fortes dos alunos e nos contextos ambientais e ajuda os profissionais a concentrar esforços para fechar a lacuna que existe entre ambos e a promover a participação significativa no ambiente escolar e nas atividades. Para tal, é necessário um investimento de tempo e esforço na avaliação do atual nível de desempenho da criança bem como na forma como o contexto pode ser modificado.

Assim, a construção de um portefólio, implicando automaticamente a participação da família, poderá apresentar-se como uma estratégia para a avaliação dos interesses e das necessidades atuais da criança e para o posterior alinhamento da planificação e dos suportes necessários, servindo como uma metodologia facilitadora em fases de transição de ciclo.

Enquadramento Teórico

Vantagens da utilização de um portefólio

A concretização das propostas da inclusão depende muito do que um professor faz na sua sala e da forma como encara as diferenças, daí uma das grandes preocupações em que a escola inclusiva se centra é na transformação da sala num ambiente propício para o ensino-aprendizagem e onde se possa ensinar todos os alunos (Sanches-Ferreira, 2007).

A escola tem um papel fulcral no atendimento à diversidade de caraterísticas dos diferentes alunos que integram o sistema educativo e, mais especificamente, a sala de aula. É por isso, cada vez mais, o professor é considerado a pedra basilar na construção da escola inclusiva.

Este sentido de “dar oportunidade” é bem fundamentado na definição do que é a inclusão. Esta pode ser entendida como “ a proposta educativa que pretende consubstanciar a simultaneidade de tempo e de espaço pedagógicos para todas as crianças, por forma a concretizar os ideais da educação pública obrigatória: qualidade, eficiência, igualdade e equidade” (Sanches-Ferreira, 2007, p. 59).

Claro que a família não poderia estar alheia de todo este processo de educação inclusiva e, de facto, há uma linha de intervenção, sustentada nos resultados da investigação, cujo enfoque é centrado na família, isto é, no seu envolvimento ativo em todo o processo educativo dos seus filhos. Uma estratégia de promover essa parceria é a utilização do portefólio familiar que, como refere Thompson (2007), tem muitas vantagens, desde logo ao servir para: envolver as famílias implicando-as desde o início, no processo de avaliação; aumentar as oportunidades das famílias comunicarem as informações que consideram mais importantes para a educação do filho na escola; familiarizar futuros professores e outros técnicos com a criança (por exemplo: gostos, pontos fortes, necessidades, forma de comunicação e habilidades); aumentar a probabilidade de os serviços de educação especial, através das intervenções, resolver as necessidades mais importantes.

Ora, como os portefólios utilizam, quase sempre, as tecnologias tal permite um registo que pode ser partilhado com os futuros profissionais, sendo sobretudo muito útil nas fases de transição de ciclo (Thompson, 2007).

O conceito de transição surge em quase todas as ciências e, retirando a especificidade inerente à ciência onde é utilizado, facilmente se observa que o denominador comum subjacente ao conceito de transição é mudança, movimento, ponte, passagem de um estado para o outro.

Na vida escolar das crianças a entrada para o 1.º ciclo tem sido entendida como uma transição muito importante (Fabian & Dunlop, 2006) e, não raramente, vivida como uma fase de grande expetativa e ansiedade, quer para a família, quer para a própria criança.

De facto, pesquisas recentes têm vindo a referir que a forma como as transições são realizadas podem ter efeitos a curto, mas também a longo prazo. Um estudo realizado por Christine Stephen e Peter Cope (2003) refere que a transição nem sempre se torna numa experiência inclusiva para todas as crianças e algumas correm o risco de ficar desvinculadas dos novos contextos educativos. O mesmo estudo revela que os professores encaram o processo de transição como uma forma de “enquadrar” a criança na nova fase da sua vida, onde a família não pode ser ignorada. Por isso, defendem os autores, as barreiras à inclusão devem ser previamente identificadas e exploradas através de uma pesquisa e análise atenta de todos os dados. Um facilitador nesse processo de transição passará pela interação entre a escola e a família para que o diálogo e a cooperação possam originar mais conforto e confiança para todos, especialmente para a criança..

É neste enquadramento que o portefólio surge como um modo de concretizar uma cooperação necessária, sobretudo nas transições entre ciclos de modo a que a continuidade educativa esteja garantida. Este processo requer a cooperação entre a família e a escola para proporcionar às crianças experiências positivas e permitir uma participação efetiva (Fabian & Dunlop, 2006).

Método

Participantes

Os participantes do nosso estudo foram o Simão e a sua família.

Cenário

Este estudo decorreu na casa da família do Simão e no jardim de infância onde estava inserido.

Procedimentos

Este estudo decorreu durante cerca de quatro meses e consistiu numa deslocação semanal a casa da família para organizar a informação e construir o portefólio (livro e filme).

 

 

 Vídeo 1 – Pequeno excerto do filme que integra o portefólio

 

Nesses encontros foram registadas as informações mais importantes, bem como os sentimentos e expetativas que iam sendo manifestadas ao longo do processo.

Começou por definir-se quais os tópicos que constariam no livro.

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Figura 1 – Capa do livro e apresentação dos tópicos

Posteriormente começou a definir-se que informações constariam em cada tópico e que imagens/ fotografias poderiam ser úteis para o que se queria transmitir. Desta forma os encontros começaram a ser planeados previamente, uma vez que no final de cada reunião ficava definido o que se iria trabalhar na próxima.

Foi deste modo que o portefólio em forma de livro foi sendo construído, na primeira pessoa.

O tópico Tudo sobre mim é, essencialmente, uma descrição da personalidade do Simão, das suas preferências e das ocupações de tempos livres. Mas também aí os pais deixaram algumas pistas de como proceder em algumas situações mais difíceis ou de como evitar outras que poderão tornar-se menos agradáveis.

É por isso, por se tratar de um tópico sobre as suas preferências que as fotografias ilustram exatamente isso, isto é, o Simão nas atividades que mais gosta (jogar futebol, nadar, jogar computador, andar de bicicleta).

 

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Figura 2 -  Página do livro que apresenta o Simão aos leitores

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Figura 3 – Preferências do Simão

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Figura 4 – Fotografia que integra a página das atividades preferidas

No tópico Conhece a minha família e amigos, fez-se referência a todas as pessoas que são importantes na vida do Simão. Este tópico começou por apresentar a família, sendo sempre acompanhado por fotografias da mesma. Também foram incluídos os melhores amigos do Simão e descritas as brincadeiras que tinham em grupo. Aqui os pais consideraram também importante referir os profissionais que trabalham com ele (professora, terapeutas), especificando que tipo de trabalho se estava a desenvolver.

Imagem5Figura 5 - Página que integra o tópico “Conhece a minha família e amigos”

Para o tópico O que consigo fazer, foi necessário a colaboração da escola, mais concretamente da educadora do Simão. Daí grande parte do conteúdo deste tópico ser relacionado com o trabalho por ele desenvolvido no jardim-de-infância. O relevo aqui foi para a descrição das aprendizagens do Simão. No entanto, esta informação é sempre acompanhada por outra e que diz respeito às suas preferências. Assim, houve a preocupação de no portefólio constar informação acerca dos trabalhos que o Simão mais e menos gostava de fazer e ou daqueles em que sentia mais dificuldades. Todas estas descrições foram acompanhadas de fotografias do Simão nas respetivas atividades e de amostras de alguns dos seus trabalhos.

Também neste tópico são apresentadas pistas de intervenção – já testadas e com resultados positivos – no sentido de promover o envolvimento do Simão nas atividades no jardim-de-infância. São também aqui referidos alguns comportamentos menos apropriados do Simão e como os evitar, isto é, quais as soluções de organização e de antecipação é que tem sido utilizadas com sucesso.

Também são dadas algumas informações relativas à comunicação do Simão que é a sua área mais comprometida.

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Figura 6 – Página que integra o tópico “O que consigo fazer”

 

O último tópico Não te esqueças apresenta uma lista das dez coisas mais importantes a reter sobre o Simão de forma a sumariar o conteúdo do portefólio e onde são de uma forma mais clara as pistas para uma melhor intervenção, isto é, algumas estratégias que visam a adequação do ambiente ao Simão e, desse modo, do Simão ao ambiente.

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Figura 7 – Primeira página do tópico “Não te esqueças”

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Figura 8 – Página que termina a lista das dez coisas mais importantes

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Figura 9 – Última página do livro do Simão

O filme fez-se após a construção do livro. Por opção da família os intervenientes no filme seriam o Simão, o irmão, a prima e dois amigos da escola. Para isso, seria necessário filmar em diferentes espaços. Então durante a semana, foram realizadas filmagens na escola, onde o Simão interagia com os pares e feitas entrevistas às duas crianças escolhidas para participar.

No fim-de-semana escolheu-se um local da preferência do Simão, o parque da cidade, e foram recolhidos vários momentos que constituem o filme.

É pertinente dizer que nenhuma das crianças foi previamente informada do que iríamos perguntar nem lhes foi solicitado que fizessem algo em particular. Todas as imagens apresentadas no filme são de situações espontâneas.

Resultados

No fim deste processo, isto é, dos quatro meses de interação com a família resultou um portefólio do Simão, na versão livro e filme. Contudo, a opinião dos pais sobre todo o processo, especificamente sobre o portefólio, constituem um resultado, na medida é essa opinião que valida ou não a importância do portefólio como meio de dar a conhecer Simão na transição para o 1º ciclo. Ora, na opinião da mãe “Com o portefólio, a professora não tem apenas um relatório, muitas vezes com poucas informações, ou não ouve apenas aquilo que digo sobre o meu filho nas reuniões… a professora pode ver o que ele realmente é capaz de fazer e aquilo que gosta.”

Após mostrar à educadora do Simão o portefólio e quando lhe perguntamos o que pensava dele, a educadora referiu considerar que “o portefólio apresenta-se como um instrumento que auxilia os novos professores, pois contempla (…) todas as informações importantes para quem não conhece a criança, para futuras intervenções e para um trabalho mais completo, mais adaptado e mais estimulante para o aluno.”

São apenas dois excertos, de muitos que temos registados, mas que são paradigmáticos do que quer os pais quer a educadora consideraram.

De facto, das opiniões recolhidas na família, esta para além de ter considerado como um ganho para si própria o processo de construção do portefólio, referiu ter esta metodologia permitido evidenciar os aspetos positivos e não só os aspetos mais negativos relacionados com as dimensões onde o filho revelava mais dificuldades. Também a educadora, salientou como o portefólio a tinha ajudado a olhar para além do que habitualmente via no Simão e a estreitar a relação com a família. Acrescentou, ainda, que sendo um grupo que já interagia muito com a criança, a partilha do portefólio e o visionamento do filme na turma, tinha permitido aos colegas ter uma perceção ainda mais positiva sobre o amigo, visível no maior número de interações mas, sobretudo no maior número de atos de ajuda, o que, segundo a educadora, era demonstrativo de uma maior atenção às suas necessidades.

Por último, quer a família quer a educadora consideraram que o portefólio contribuiria, seguramente, para que a transição para o próximo contexto educativo não constituísse um momento de rutura, mas antes um processo de continuidade.

Discussão

O objetivo deste projeto foi possibilitar a uma família a comunicação das informações que consideravam mais importantes que os professores e os pares do seu filho tivessem, quando no inicio do ano letivo ele transitasse do jardim-de-infância para o 1º ciclo. Pretendia-se com o portefólio, na versão livro e vídeo, que os futuros profissionais tivessem um maior conhecimento do Simão e, assim, transformar, o mais possível, a transição num processo de continuidade.

Este estudo parece mostrar que o portefólio pode ser um meio para que as transições não sejam momentos de rutura no processo educativo. De facto, este estudo permite-nos dizer que este portefólio foi um meio de promover uma avaliação autêntica da criança e um meio de fomentar a colaboração entre a escola e a família.

Em conclusão, os pais consideraram que os futuros profissionais quando visualizassem o filme ficariam com um conhecimento do Simão muito superior aquele que um relatório poderia fornecer, por muito bem elaborado que estivesse e a educadora considerou que portefólio em forma de livro, ao fornecer estratégias para antecipar situações de possível conflito ou de como as resolver quando ocorrem, permitirá à futura professora dar continuidade a um processo educativo e não “iniciar” um processo educativo com tudo o que isso acarretaria para o Simão e a família.

Referências Bibliográficas

Fabian, H. & Dunlop, A. (2006). Outcomes of a good practice in transition processes for children entering primary school, Education for All global Monitoring Report, 13, 1-21.

Sanches-Ferreira, M. (2007). Educação regular, educação especial. Uma história de separação. (Coleção biblioteca das ciências sociais/Ciências da educação). Porto: Edições Afrontamento

Stephen, C. & Cope, P. (2003). An Inclusive Perspective on Transition to Primary School. In European Educational Research Journal, 2, 262-276.

Thompson J, Wehmeyer M & Hughes C (2010). Mind the Gap! Implications of a Person-Environment Fit Model of Intellectual Disability for Students, Educators, and Schools. Exceptionality, 18 (4), 168-181

Thompson, J. R., Meadan, H., Fansler, K., Alber, S., Balogh, P. (2007). Family Assessment Portfolios. A New Way to Jumpstart Family/ School Collaboration. Teaching Exceptional Children, 39, 6, 19-25.