Sensos-e Vol: I Num: 1  ISSN 2183-1432
URL: http://sensos-e.ese.ipp.pt/?p=4968

Portal virtual Hands-on-Tec: recurso de autoria para professores da educação básica

Autor: Valdir Rosa Afiliação: Universidade do Minho
Autor: Selma dos Santos Rosa Afiliação: Universidade Federal de Santa Catarina
Autor: Marcia Barros de Sales Afiliação: Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo: Nesta pesquisa buscamos contribuir para o uso de tecnologia digitais móveis no ensino de Ciências da Natureza e Matemática. Por meio de um estudo desenvolvido em uma oficina pedagógica sobre a estratégia Hands-on-Tec com a participação de 57 professores de escolas públicas brasileiras, objetivamos compreender as dificuldades e a aceitação destes professores quanto ao uso desta estratégia, bem como identificar suas potencialidades e oportunidades de melhoria. Para isso, apresentamos um Portal Virtual concebido para privilegiar o compartilhamento, a cooperação e a autoria de recursos educacionais seguindo a filosofia de abertura ao uso, construídos à luz da Hands-on-Tec. Os resultados da pesquisa apontam que o uso de laptops educacionais aliado ao uso desta estratégia pode contribuir significativamente com o ensino de Ciências da Natureza e Matemática, na Educação básica.
Palavras-Chave: Tecnologias educacionais, Hands-on-Tec, Laptops Educacionais, Recursos Educacionais Abertos, PROUCA

Abstract: This research contributes to the use of digital mobile technology in teaching Mathematics and Natural Sciences. By means of a study developed in a pedagogical workshop about the strategy of Hands-On-Tec with the participation of 57 professors of Brazilian public schools, we aim to comprehend the difficulties and the acceptance of these professors regarding the use of this pedagogical teaching strategy as well as identify its potential and opportunities for improvement. For this, we present a Virtual Portal designed to benefit sharing, cooperation and authored educational resources, following the philosophy of open access for the use created for Hands-On-Tec. The results of this research indicates that the use of educational laptops along with the use of this strategy may significantly contribute to the teaching of Natural Sciences and Mathematics, in Basic Education.
Keywords: Educational technologies, Hands-On-Tec, Educational Laptops, Open Educational Resources, PROUCA

Portal virtual Hands-on-Tec: recurso de autoria para professores da educação básica

Autor: Valdir Rosa Afiliação: Universidade do Minho
Autor: Selma dos Santos Rosa Afiliação: Universidade Federal de Santa Catarina
Autor: Marcia Barros de Sales Afiliação: Universidade Federal de Santa Catarina

1.     INTRODUÇÃO

As discussões a respeito do uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) na educação básica apontam para oportunidades e também para desafios. Entre as oportunidades aparece a potencialidade para a aquisição e o aperfeiçoamento da inclusão digital e social de alunos e professores. Entre os desafios destacam-se a estruturação de estratégias pedagógicas que culminem e sustentem estas tecnologias no contexto escolar. Aliados a estes desafios e possibilidades estão as dificuldades encontradas na práxis do uso desses recursos na educação, a qual possui um histórico com dificuldades e ao mesmo tempo, repleto de tentativas dos que intensificam seus esforços para seu uso educacional.

Desde 2010 os autores deste artigo, integrantes do Grupo de pesquisa Mídias e Educação (*), têm desenvolvido pesquisas relacionadas ao uso de TDIC na educação básica. Nessas investigações, tem-se constatado a necessidade de contribuir com estratégias de ensino que corroborem o uso desses recursos, com fluência e crítica tecnológica e pedagógica pelos docentes e alunos, especialmente, no ensino Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (CNMT). Os resultados dessas investigações culminaram na elaboração de uma estratégia pedagógica com vistas a contribuir com práticas de ensino mediadas por TIC, com destaque neste momento, aos laptops educacionais, distribuídos pelo Governo Federal brasileiro para diversas escolas públicas de educação básica, por meio do PROUCA. Deste modo, Rosa, Santos Rosa & Souza (2013) propõem  a  estratégica pedagógica Hands-on-Tec, a qual é uma adaptação da Técnica Hands-on (Chevalérias, 2002) em conjunto com a teoria de Resolução de Problemas (Souza, 2004) e com a WebQuest – metodologia de pesquisa na internet (Junior, 2002), aliadas ao uso das TIC.

A Hands-on-Tec é uma estratégia de ensino para orientar o professor na elaboração de práticas pedagógicas nas disciplinas de Ciências e Matemática a partir de questões investigativas que se constituam problemas reais e presentes no cotidiano do aluno. Neste sentido, atividades experimentais são sugeridas com a proposição de evitar que a relação teoria-prática seja transformada em uma dicotomia. Esta estratégia traz embutida a evidência de que é desejável que as TDIC sejam incorporadas na educação, sem com isso, descartar formas de ensino com grande potencial pedagógico, como por exemplo, as técnicas Hands-on e a de Resolução de Problemas. Assim, considera-se proeminente evoluir com técnicas de ensino já consolidadas agregando a elas o uso com fluência e criticidade das TDIC  (ROSA et al., 2013).

O uso dos laptops nas aulas configura-se como uma ferramenta emergente e com grande potencial para contribuir para as práticas pedagógicas do professor. Para Silva (2009), o uso dos laptops provocou mudanças no comportamento e na postura do professor, pois o levou a refletir e a buscar alternativas para mudar sua prática pedagógica. Esta autora salienta que o uso dos laptops colaborou para aprimorar e enriquecer o desenvolvimento dos conteúdos já programados pelos professores, além de dar oportunidades ao aprofundamento dos temas previstos no currículo pré-estabelecido. No entanto, Santos (2010, p.192) aponta que muitos professores possuem dúvidas em como utilizar os laptops em suas práticas na sala de aula: “[...] o grande desafio percebido pelos docentes [...] foi justamente como desenvolver práticas pedagógicas acertadas para a utilização didática dos laptops”. Porém, a pesquisa de Silva (2009) aponta que, apesar dos desafios, os laptops motivam os professores a desenvolver novas práticas educativas, com o intuito de obter aulas mais dinâmicas e ganhos educacionais relevantes.

Durante os últimos dois anos, os autores da presente pesquisa vivenciaram a ansiedade e insegurança de professores participantes do PROUCA no estado de Santa Catarina (Brasil), sobre como utilizar laptops educacionais de forma significativa para a aprendizagem nos diversos contextos de suas disciplinas. Santana (2012) menciona algumas das vias de pressões sofridas por educadores devido ao uso de TDIC na educação, dentre as quais destacam-se: em fevereiro de 2012, a aquisição e distribuição do Governo Federal brasileiro de 600 mil tablets para escolas públicas brasileiras. Neste mesmo período, no Estado de São Paulo destacou-se que escolas particulares de educação básica adotaram tablets como componentes da lista de material escolar. Ainda em 2012, o governo de São Paulo, divulgou que pelo menos 40% das aulas do 7º, 8º, e 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio, teriam atividades em meios digitais.

Recentemente Santana (2012), alertou sobre a utilização dos recursos tecnológicos nos moldes da educação de massa. Um exemplo citado por ela é o material didático digital pronto para consumo, disponível nos tablets por empresas produtoras de recursos didáticos educacionais, os quais já estão sendo distribuídos em diversas escolas brasileiras. A autora complementa dizendo que os editais de compra de material didático pelo governo brasileiro, nas recentes versões do Programa Nacional de Livro Didático (2013 a 2014) incluem a compra de conteúdos digitais na perspectiva do consumo. Trata-se de recursos educacionais “fechados”, em que alunos e professores não poderão alterá-los para adequar a suas necessidades educacionais, distanciando-se com isso, do incentivo à produção discente e docente. Neste sentido, são destacadas as possibilidades que as TIC podem oferecer no sentido de explorar seus potenciais para dispor de recursos com mais possibilidades de explorações e adequações aos diversos contextos de práticas educativas.

Nessa direção, encontra-se a abordagem de Recursos Educacionais Abertos (REA), cuja filosofia se estabelece na dimensão da abertura ao uso, distribuição e adequação a contextos distintos de ensino-aprendizagem. Os REA são inseridos como uma possibilidade para incorporar TDIC na educação, como ferramentas de apoio a construção de modelos de materiais didáticos para além da produção, reprodução e transmissão de conhecimento, cuja ênfase está na colaboração e no trabalho em rede e, portanto, apresenta-se como um estímulo para a lógica da partilha e da colaboração, componentes essenciais à educação (Santos, 2012).

Não obstante, quando o material é licenciado de maneira fechada com direitos reservados ao autor, este não poderá ser utilizado indiscriminadamente e ao professor ou aluno não será permitido adaptá-lo às suas necessidades. Desta forma a criatividade e a capacidade de adaptação a necessidades específicas, ou a simples correção de problemas diretamente no material didático, fica proibida. Dependendo do formato em que for publicado um conteúdo, tais possibilidades, além de ilegais, podem ser tecnicamente impossíveis (Santana, 2012; Santos, 2012).

Pelo exposto, com a proposição de contribuir com melhorias no uso de TDIC na educação, na presente pesquisa busca-se analisar como a estratégia pedagógica Hands-on-Tec, pode contribuir com o uso destas tecnologias e ao mesmo tempo cumprir o currículo base e agregar qualidade ao processo de ensino e de aprendizagem.

2.     MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta pesquisa valoriza-se, sobretudo, a o binômio pesquisa/desenvolvimento, envolvendo a operacionalização, implementação, análise e avaliação de propostas que visam contribuir com a melhoria do uso de TIC móveis na área de CNMT.

Os dados empíricos deste estudo foram coletados a partir da participação de 57 professores em três oficinas pedagógicas realizadas nos meses Abril e Maio de 2013 em três escolas de educação básica do Estado de Santa Catarina, participantes do PROUCA.

Para apoiar a continuação da participação desses professores e fortalecer a compreensão e o uso de TIC em suas aulas, criou-se um Portal virtual constituído de recursos que corroboram a colaboração e a partilha de modelos de planos de aula, seguindo as premissas de um REA, no que tange à abertura ao uso e possibilidade de adaptação ao contexto de diversos usuários. Este portal foi apresentado e utilizado pelos professores nas oficinas supracitadas e geraram novas atividades Hands-on-Tec, as quais foram submetidas à apreciação, análise e validação de dois especialistas em CNMT. As constatações aliadas às considerações desses avaliadores, cuja composição originou dados empíricos para esta pesquisa, possibilitaram compreender as dificuldades, a aceitação e as potencialidades dessa estratégia, possibilitada por meio do Portal Hands-on-Tec, para o uso com fluência e critica pedagógica de TDIC pelos docentes das áreas de conhecimento afins.

3.     ESTRATÉGIA HANDS-ON-TEC

Nesta seção apresenta-se uma síntese da estratégia pedagógica Hands-on-Tec a qual encontra-se relatada em (*). No vídeo abaixo, apresenta-se a estratégia na fala dos pesquisadores e uma atividade sendo realizada em uma escola com alunos do oitavo ano.

Vídeo 1: Depoimento dos pesquisadores

A sequência para a realização de uma atividade Hands-on-Tec, divide-se em três fases distintas: 1ª) Problematizando: apresentação, problematização, levantamento de hipóteses e experimentação; 2ª) Contextualizando: consiste na reunião dos alunos de uma mesma turma, em um espaço físico que pode ser a sala de aula ou outro espaço, para que eles apresentem e discutam suas hipóteses, as dificuldades enfrentadas para realizar o experimento e a solução encontrada. Nesta fase o professor realiza uma contextualização do experimento; 3ª) Pesquisando e socializando: composta de duas etapas: (a) o uso das TIC móveis, incluindo a pesquisa na internet e, (b) o relatório individual dos alunos – seguindo passos de Resolução de Problemas (RP) e da metodologia WebQuest - elaborado em softwares de edição de texto, de edição de imagens, de apresentação, de edição de vídeos, etc.

Para iniciar a aula, primeira fase, propõe-se ao  professor  apresentar a atividade, o título, a questão-problema e uma descrição prévia para despertar o interesse dos alunos. Enfatiza-se a importância de valorizar a compreensão da atividade, pelos alunos, durante todo o processo e também, que a emissão de hipóteses torna-se fundamental e seguem a técnica de RP.

Na segunda fase, o professor reúne os estudantes em um grande grupo e abre espaço para que relatem as hipóteses que possuíam antes do experimento, quais dificuldades enfrentaram para realizar o experimento e como conseguiram resolver o problema apresentado. Este momento destaca-se pela aprendizagem colaborativa (entre alunos). Nela, o professor aborda as ideias errôneas, socializa as dificuldades e discute o porquê destas e, principalmente, todos chegam à solução do problema, ou seja, como foi possível resolvê-lo. Ao concluir esta fase, o professor deve contextualizar o experimento exibindo, por exemplo, um vídeo que apresente uma situação do cotidiano que tenha relação com conceitos do experimento realizado.

A terceira fase se destaca pelo uso das TDIC e a metodologia WebQuest, numa primeira etapa, (a) inclui a pesquisa na internet. Assim os alunos buscam ampliar os conhecimentos já discutidos no pequeno e grande grupo. Registram suas descobertas em relação ao problema inicial, discutem com os colegas da equipe e iniciam o relatório que envolve a resolução do problema. Em seguida, (b) os alunos são orientados a elaborarem um relatório individual seguindo os passos da RP, elaborado nos laptops e apresentado ao grande grupo.

O Mapa 1 apresenta a configuração das três fases, supracitadas.

Sem Título

Para garantir que o aprendizado de conceitos envolvidos na atividade ocorra e potencialize o uso das TIC, durante a primeira etapa da terceira fase, sugere-se ao professor a disponibilização de jogos educativos ou simuladores virtuais previamente escolhidos para esse fim, de acordo com o conteúdo desenvolvido.

3.1     Portal virtual HANDS-ON-TEC 

Conforme foi explanado no início deste artigo, com o propósito de auxiliar os professores na aplicação da Hands-on-Tec, criou-se um Portal virtual no qual são disponibilizadas orientações e espaços para partilha e colaboração entre docentes e pesquisadores. A estrutura deste portal, constitui-se de uma área de apresentação e orientações sobre a Hands-on-Tec, e também, sugestões de atividades elaboradas por integrantes dessa pesquisa e por professores colaboradores que se cadastram e publicam ou baixam atividades disponíveis. A busca pelas atividades pode ser realizada por categorias (atividades do 1º ao 3º, do 4º ao 6º e, do 7º ao 9º ano) ou por palavras-chave.

Como componente de cooperação e colaboração, está disponível ao professor uma área de publicação onde ele pode inserir suas próprias atividades, as quais podem ser utilizadas por outros professores. A estrutura do portal prima pela simplificação de inserção de conteúdos com design simples e orientativo, no sentido de ajudar o autor da atividade com o intuito de que ao elaborá-la, corrobore com a sequência e com os elementos de uma atividade pedagógica Hands-on-Tec. No Quadro 1 são apresentados os elementos estruturantes de uma atividade Hands-on-Tec que são preenchidos na área de publicação do portal virtual pelos autores (professores).

1

As informações apresentados no Quadro 1, depois de inseridas pelo autor (um professor) da atividade são configuradas automaticamente pela ferramenta de autoria do Portal e, em seguida,  geram resultados como o exposto na Figura 1:

Figura 1: Configuração final de uma atividade Hands-on-tec Fonte: http://www.handstec.org/?q=node/57

Figura 1: Configuração final de uma atividade Hands-on-tec
Fonte: http://www.handstec.org/?q=node/57

 Vídeo 2: Moeda Preguiça

O vídeo 2 da atividade “Moeda Preguiça” foi realizado para orientar o professor sobre como os alunos poderão realizar o experimento. O vídeo inicial da atividade é ilustrativo para aqueles professores que nunca realizaram a experiência em questão e, dessa forma, eles terão maior segurança ao realizá-la em suas aulas. Apresentamos a seguir o vídeo 3 com uma atividade sobre o tema “flutuação”.

Vídeo 3: Atividade “Por cima d´água “

A Figura 1, apresenta uma das telas de uma atividade inserida por um professor e configurada pelo sistema web. Aliada a esta estrutura, que representa a primeira etapa composta por orientações da atividade, foram adaptadas três seções complementares constituídas de 2 animações (fase 1 e 3) e uma imagem ilustrativa (fase 2) das etapas de uma atividade desta natureza. Em cada fase, além dessas animações e vídeos, disponibilizou-se um espaço para que o autor possa inserir informações relevantes e orientativas para outros professores que queiram utilizar sua proposta. As Figuras 2 e 3 (*), abaixo, ilustram as fases 1 e 2.

Figura 2 – Fase 1 – Problematizando

Figura 2 – Fase 1 – Problematizando

Na figura 2, nota-se uma imagem ilustrativa sobre o experimento seguida de uma questão – problema, abaixo desses elementos encontra-se um recurso multimídia, composto de som, imagem e movimento, com orientações do autor ao professor que utilizará esta atividade em sua aula.

Figura 3 - Fase 2 - Contextualizando

Figura 3 – Fase 2 – Contextualizando

A Figura 3, exibe a estrutura complementar da fase 2 (contextualizando). Nela o autor apresenta algumas diretivas e sugestões de como o professor poderá conduzir esta fase em sua aula. O vídeo ou texto de contextualização é fundamental para a atividade, pois é através dele que o aluno perceberá a relação dos conceitos com o seu cotidiano. Como elemento complementar, inseriu-se uma animação com imagens e textos composta de orientações ao professor.

Após salvar uma atividade, o autor deve submetê-la para apreciação e avaliação de especialistas em conteúdos de CNMT, colaboradores da Hands-on-Tec. Um especialista revisa a proposta do professor, faz seus apontamentos com correções de conceitos, gramaticais ou sugestões de melhorias, quando necessário. Ao finalizar, submete a atividade ao professor (autor), que deve revisar, quando necessário, a atividade e reenviá-la ao especialista para a publicação final. Este processo pode ser repetido várias vezes até que a atividade alinhe-se à Hands-on-Tec.

3.2     Oficinas pedagógicas e resultados

Após a implementação do Portal Hands-on-Tec, o grupo de pesquisa no qual os autores deste artigo participam, realizou oficinas pedagógicas em três escolas públicas do Estado de Santa Catarina. O objetivo da oficina foi compartilhar com professores da educação básica a estratégia Hands-on-Tec e analisar suas potencialidades e também as dificuldades de uso dos professores durante a fase de inserção de uma nova atividade de autoria deles, neste ambiente.

As inscrições para participação nas oficinas foram realizadas por formulário de inscrição eletrônico, no qual continha informações do perfil dos professores relacionado ao uso de TIC, conforme apresenta-se no quadro 2:

Quadro 2

Pelo exposto no Quadro 2, nota-se que a maioria dos professores possui conhecimentos básicos em informática. Por conhecimento básico considera-se saber realizar tarefas operacionais simples, como por exemplo, utilizar recursos do sistema operacional, editar texto, navegar na internet, enviar mensagens eletrônicas e participar em redes sociais. No nível intermediário, representado por 15 dos professores, considera-se usuários que sejam capazes de realizar as atividades do nível básico agregadas a outras, como por exemplo, efetuar download e upload de textos, de vídeo e de imagens na internet, participar em atividades de blogs e de redes sociais, editar  imagens, instalar softwares, produzir vídeos de baixo grau de dificuldade de desenvolvimento e prestar manutenção de hardware em casos de baixa complexidade. Já os usuários de nível avançado agregam conhecimentos em linguagem de programação, edição de vídeo, criação de websites, blogs e redes sociais, produção de imagens, recursos multimídias de alto grau de complexidade entre outras atividades relacionadas a redes e segurança de computadores.

Com relação a frequência de uso de TDIC nas suas atividades de ensino, 51% disseram usar frequentemente, 42% com pouca frequência e 7% usam raramente. A maioria dos professores (47%) usa laptops há mais de 1 ano em suas aulas, 32% há menos de 1 ano e 21% nunca usaram.

As informações apresentadas sobre o perfil de uso de TDIC, incluindo os laptops, pelos docentes conduz a constatação de que está havendo uma evolução no seu uso na educação básica. A quantidade de professores com conhecimento básico em informática, possivelmente adquirido ou aperfeiçoado durante a implantação dos laptops educacionais, conduz a inferir que todos os professores possuem condições técnicas de aplicar a Hands-on-Tec, no entanto, dificuldades como fazer upload ou download, devem ser tratadas em oficinas de curta duração para uso instrumental de TDIC.

3.3     Autoria de atividades Hands-on-Tec

Durante os meses de abril e maio de 2013, a equipe de pesquisadores do grupo Mídia e Educação realizou 3 oficinas pedagógicas sobre a Hands-on-Tec, com 12 horas de duração cada uma, divididas em 2 dias consecutivos. As oficinas foram realizadas em 3 cidades diferentes com a participação dos professores das escolas do PROUCA/SC por região. Durante as oficinas os participantes do grupo de pesquisa selecionaram 3 atividades por eles desenvolvidas e publicadas no Portal Hands-on-Tec, e proporam que os professores a realizassem em grupos de 4 pessoas. Num segundo momento, um participante do grupo de pesquisa, orientou os professores para fazerem seus cadastros de usuário no Portal e, em seguida, apresentou o Portal bem como a área de consulta e download de atividades e a área de publicação de novas atividades.

Em seguida, os professores foram convidados a formarem duplas para elaborarem uma nova atividade seguindo as orientações e diretivas da Hands-on-Tec. Esta atividade foi iniciada durante a oficina com um prazo máximo para entrega de 15 dias. Ao concluir a atividade, um professor deveria submetê-la a um especialista para avaliação e posterior publicação no Portal. As atividades postadas acabaram por ser elaboradas individualmente, em duplas e em trios. Como resultado de participação dos professores na elaboração de novas atividades Hands-on-Tec, obteve-se o seguinte quadro:

Quadro 3

Conforme Quadro 3, dos 57 professores participantes da oficina, 36 desenvolveram uma atividade. Todas necessitaram de revisões, mas apenas 24 procederam às correções e tiveram suas atividades publicadas no Portal pelos avaliadores. Passa-se à apresentação das considerações dos avaliadores:

Segundo o avaliador 1, “os professores apresentaram dificuldades em todas as etapas na construção das atividades. Os objetivos não eram claros e a descrição apresentava-se confusa. Todos tiveram dificuldades de acrescentar vídeos ou simuladores pois na primeira postagem no ambiente esses recursos permaneciam ausentes”. Considerações semelhantes foram feitas pelo avaliador 2 nas atividades em que atuou, acrescentando-se apenas que alguns professores relataram ter dificuldades em encontrar um vídeo que pudessem utilizar para contextualizar sua atividade.

Esta constatação corrobora o perfil dos docentes no que tange ao uso de TDIC, pois a maioria possui apenas conhecimentos básicos em informática, fato que criou dificuldades de inserir vídeos ou ilustrações em suas propostas. Não obstante, outros fatores relacionados a aspectos pedagógicos, como por exemplo, a elaboração de objetivos e de descrição das atividades, também foi evidenciados.

Outros apontamentos dos avaliadores conduzem à constatação da não observação, pelos professores, das diretivas da Hands-on-Tec e, da falta de compreensão dada a importância ao uso das TIC embutido nessa estratégia pedagógica. Segundo o avaliador 2, “isso se tornou claro pelo tipo de escrita utilizada na descrição realizada por eles e, ausência de materiais nas Fases 1, 2 e 3”. Este fato reforça a necessidade de as atividades passarem por uma avaliação pelos especialistas antes de sua publicação. Pois, este cuidado fortalecerá a caracterização do Portal e primará pela partilha de propostas condizentes com a Hands-on-Tec. Erros de conceitos científicos também constituem uma componente altamente relevante, que requer revisão rigorosa antes da publicação destas atividades.

Segundo o avaliador 1 “em uma segunda revisão, foi necessário fazer pequenas alterações para a edição final e comunicar os professores sobre as atualizações. Alguns professores responderam de forma positiva e mostraram-se satisfeitos com sua atividade postada no ambiente”. Nesta mesma perspectiva o avaliador 2 afere que “alguns professores demonstraram grande empolgação durante a criação e aplicação da atividade, no entanto, sem seguir totalmente as etapas Hands-on-Tec”.

Estas percepções dos avaliadores corroboram uma hipótese levantada pelos autores desse artigo durante a fase da construção da proposta Hands-on-Tec. Pressupunha-se que a estrutura da área de publicação do Portal e a configuração automática que o sistema faz, reduz esforços do autor. Aliado a isso, considera-se que os três elementos multimídia, expostos na seção 3.1 deste artigo, também contribuíram para a satisfação do resultado obtido com suas autorias.

De modo geral, o avaliador 2 conclui que “os professores consideraram a estratégia útil em atividades que envolvem experimentação para aplicarem em suas aulas, tendo as TDIC móveis como ferramenta de apoio”. Segundo este avaliador, houve comprometimento da maioria dos professores em criar as atividades e enviá-las, bem como fazer as alterações sugeridas. Para ele, isso indica que houve “um perceptível despertar desses professores para a possibilidade de utilizar uma nova estratégia em suas práticas”.

4.     CONSIDERAÇÕES

No início deste artigo enfatizou-se a necessidade de dispor estratégias pedagógicas que reforcem o uso das TIC por professores, com fluência e crítica técnica e pedagógica, em suas práticas de ensino, aliadas ao currículo atual e dentro das condições de acesso à tecnologia que a escola oferece. Os resultados revelaram que o PROUCA  juntamente com a Hands-on-Tec, contribuem de forma significativa para essas questões, com destaque a proeminência de potencializar metodologias e técnicas pedagógicas já consolidadas como a teoria de Resolução de Problemas, a Hands-on, a WebQuest e o uso de TDIC móveis. As facilidades proporcionadas aos docentes para elaborar e publicar suas atividades no Portal virtual também corroboram tal proposição.

Estratégias como a apresentada neste estudo podem, a médio e longo prazo, provocar mudanças no comportamento e na postura do professor e também do aluno, quanto ao uso de TDIC, pelo fato de proporcionarem melhores resultados educacionais. As oficinas relatadas neste estudo, bem como o uso do Portal colaboraram para aprimorar e enriquecer o desenvolvimento dessas práticas, além de oportunizarem aos professores aprofundar conhecimento sobre os temas previstos no currículo escolar pré-estabelecido.

Dúvidas sobre como utilizar os laptops poderão ser diminuídas na medida em que os professores compreendam como podem agregá-los as suas aulas, seguindo as abordagens didáticas que já utilizam ou renovando-as, quando necessário.

A Hands-on-Tec, apesar de ter sua origem na CNMT, pode ser adaptada a outras disciplinas. Entretanto, contextos e necessidades distintas das apresentadas nesta pesquisa poderão surgir, devido a natureza epistemológica e pedagógica das diversas áreas do conhecimento.

Estima-se que a presente pesquisa traga contribuições para fortalecer o uso das TDIC móveis na educação e reconhecer as limitações e as possibilidades que estes recursos oferecem aos professores, aos alunos e consequentemente à sociedade e, por decorrência, apontar subsídios que permitam estabelecer recomendações aos processos e métodos de ensino de CNMT, na educação básica.

5.     AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos aos professores, alunos, diretores das 11 escolas participantes do PROUCA em Santa Catarina no período de 2010 a 2013, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (brasileiro) e também aos integrantes do Grupo de pesquisa Mídia e Educação vinculados às seguintes instituições de ensino: Instituto Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade de Blumenau, por contribuírem com a realização desta pesquisa.



Referências


Chevalérias, F.(org). (2002). Enseigner les sciences à l’ école – cycles 1, 2 et 3. Edith Saltiel – La main à la pâte; université Paris 7 Jean-Pierre Sarmant, inspeção geral da educação nacional.

Junior, J.B.B. (2012). Metodologia WebQuest: uma estratégia para integrar os recursos da web em contexto educativo.

Rosa, V., SantosRosa, S., Souza e C.A, 2013. Hands-on-Tec: uma estratégia pedagógica para uso de tecnologias educacionais móveis. Anais Challenges 2013. Braga. Universidade do Minho.

Santana, B. (2012). Materiais didáticos digitais e recursos educacionais abertos. In: SANTANA, B; Rossini, C.; Preto, N.D. Recursos Educacionais Abertos- práticas colaborativas e políticas públicas. Disponível em  http://www.livrorea.net.br/livro/home.html. Acedido em 24.06.2013.

Santos, A.I. (2012). Educação aberta: histórico, práticas e o contexto dos recursos educacionais abertos. In: SANTANA, B; Rossini, C.; Preto, N.D. Recursos Educacionais Abertos- práticas colaborativas e políticas públicas.  Disponível em  http://www.livrorea.net.br/livro/home.html. Acedido em 24.06.2013.

Santos, M. B. F. (2010). Laptops na escola: mudança e permanências no currículo, 215 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. Acedido em:  http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2210.

Silva, R.K. (2009). O impacto inicial do Laptop Educacional no olhar de professores da Rede Pública de Ensino. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Educação. São Paulo. Disponível em   http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9911.   Acedido em 19 de fevereiro de 2013.

Souza, C. A. (2004) A Investigação-ação Escolar e Resolução de Problemas de Física: o potencial dos meios tecnológicos-comunicativos. CED/UFSC. Divulgação Científica e Cultura – USP. São Carlos.