Sensos-e Vol: III Num: 1  ISSN 2183-1432
URL: http://sensos-e.ese.ipp.pt/?p=12735

Editorial

O N.º 1 do volume 3 da Sensos-e tem como tema central “Investigação, Intervenção e Projetos Sociais” e pretende divulgar experiências, projetos e ações de natureza educativa e social, em diversos domínios (educação e animação comunitárias, ação sociocultural e socioeducativa, entre outros). A chamada de artigos possibilitou a submissão de artigos de outros âmbitos educacionais, a publicar em secção específica.

Recebemos 19 propostas de artigos, com origem em Portugal e Brasil, tendo sido enviados para revisão apenas 18, uma vez que um não incluía elementos multimédia. Da revisão duplamente anónima (“double blind”), efetuada por elementos do conselho editorial ou, em casos específicos, por revisores indicados por elementos que o constituem, resultou a aceitação de 12 artigos para publicação. Cinco dos artigos são publicados em secção específica. O elevado número de artigos atesta o interesse pela temática deste número e é revelador da investigação e intervenção realizada nos seus diversos domínios. Pela sua qualidade, decidimos publicar todos os artigos transformando o N.º 1, do Volume 3, da revista, num número especial.

O artigo (Por) Portas e Travessas: Ensino, Investigação e Intervenção Social na e com a Cidade, de Rosalina Costa, descreve uma experiência que promove a reflexão sobre a relação entre o ensino superior, a investigação e a intervenção social. O projeto que a autora nos apresenta é simultaneamente uma experiência inovadora de ensino-aprendizagem na iniciação à investigação científica de estudantes do ensino superior, e um projeto de intervenção social implicado na comunidade local. Inscrito no plano de atividades de 2015 do CLASE – Conselho Local de Acção Social de Évora, o projeto contribuiu para analisar e compreender a experiência do envelhecimento da população na relação com o espaço urbano do centro histórico de Évora.

Em Uma cidade que se desafia. Relato de um projeto municipal de educação não formal para a promoção do sucesso escolar, da autoria de Filipe Martins, Susana Constante Pereira, Liliana Lopes, Patrícia Costa, Teresa Ferreira, Ana Oliveira, é apresentado o projeto comunitário “Desafia-te”, desenvolvido com jovens em risco de abandono escolar e com marcas de insucesso escolar bem visíveis. Este projeto insere-se numa lógica preventiva, visando a aquisição de aprendizagens e a promoção de competências nos estudantes de forma a fazerem face aos desafios da escola e da sociedade. Foi desenvolvido num contexto comunitário, no âmbito da educação não formal, e envolveu jovens dos 14 aos 18 anos, encarregados de educação e diferentes atores locais. O artigo clarifica o método, as técnicas e as ações do projeto, e traduz de forma inequívoca as grandes potencialidades da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras.

Sofia Veiga e Maria João Antunes, no artigo intitulado Escola para quê e para quem? Redescobrindo sentidos comunitários. Um projeto de educação social na Escola da Ponte, descrevem um projeto de educação social desenvolvido na Escola da Ponte, suportado pela metodologia de investigação-ação participativa. Este projeto partiu de um problema concreto, decorrente da deslocalização da instituição educativa para uma nova freguesia, da necessidade de uma participação ativa dos atores sociais e educativos no novo contexto para uma escola aberta à comunidade, e sustentou-se nas conceções da Escola Cidadã e da Cidade Educadora. No artigo, as autoras fazem uma breve contextualização do projeto e revisão da literatura, centrando-se essencialmente na apresentação dos objetivos, desenvolvimento e avaliação do projeto.

O artigo Escola de Luta: um projeto de memória, de denúncia e de anúncio, da autoria de Elaine Santos, permite refletir sobre as interinfluências entre as questões educativas, políticas e sociais, e a importância de um ensino-aprendizagem realizado através de projetos, partindo da apresentação de alguns projetos desenvolvidos na Escola Estadual Parque Marajoara II (São Paulo, Brasil). Sustentada pelas ideias de Paulo Freire, a autora releva a importância de uma escola transformadora, que forme sujeitos ativos e participantes, construtores das suas próprias histórias e conscientes das suas capacidades para mudar o mundo. Termina, reforçando o compromisso social da educação.

Os benefícios da música para a pessoa com doença mental surgem reconhecidos no projeto de investigação-ação descrito no artigo Contratempo: utilização da música como um instrumento de inovação social para o combate ao estigma na doença mental, da autoria de Carlos Campos, Tiago Rodrigues, João Pereira, Luís Ribeiro, Ana Morais, Teresa Santos, Filipa Campos, Liliana Silva, Luísa Pereira, António J. Marques, Raquel Simões de Almeida. A música é uma importante estratégia de desenvolvimento pessoal e social, no combate ao estigma e ao serviço do recovery. No artigo, o autor apresenta a metodologia e procedimentos do projeto “Contratempo”, analisa criticamente as estratégias de intervenção do projeto e inclui, ainda, uma reflexão acerca do seu lugar no panorama atual da investigação nesta área. O projeto, desenvolvido com jovens da comunidade académica e com pessoas com doença mental, visou o combate ao estigma e a promoção da inclusão social, facilitando o empower e o recovery da pessoa com doença mental.

No artigo Projeto Sincronias – Artes Visuais e Inclusão Social, os autores (Raquel Almeida, Ana Morais, Filipa Campos, Liliana Silva, Teresa Santos, Luísa Pereira, António Marques, Susana Silva, Filomena Seara e Joana Macedo) apresentam o Projeto de inclusão social pelas artes, designado “Sincronias”, resultante da colaboração entre a Associação Nova Aurora na Reabilitação e Reintegração Psicossocial – ANARP e a Escola Superior de Educação do Porto do Instituto Politécnico do Porto. Os autores discutem as potencialidades educativas da arte na reabilitação de pessoas com doença mental, essencialmente com diagnóstico de Esquizofrenia, e analisam o impacto que o projeto está a ter nos diversos intervenientes. Para além do desenvolvimento de competências artísticas, são evidenciadas as potencialidades da participação artística e comunitária na inclusão social e na capacitação das pessoas com doença mental.

Joaquim Fialho, José Saragoça e Carlos Alberto da Silva apresentam-nos no artigo Diagnóstico social no terceiro sector. A radiografia das Misericórdias do distrito de Évora uma súmula de um diagnóstico social sobre o atual estado das Misericórdias neste distrito de, elaborado a partir de uma metodologia de diagnóstico desenvolvida pelos próprios autores. Este artigo traduz-se num contributo significativo para a compreensão das dinâmicas e das relações inter e intraorganizacionais das misericórdias, do seu papel social, das limitações e constrangimentos que condicionam a sua intervenção, bem como das suas potencialidades. Suscita-se a reflexão sobre um conjunto vasto de conclusões, de entre os quais destacamos a reduzida densidade da rede de contactos entre as instituições que sugere um quadro de ação marcadamente individualista.

Os cinco artigos que a seguir se apresentam integram a secção dedicada a projetos de outros âmbitos, não especificamente incluídos no tema central deste número.

O artigo Compreensão oral em aulas de PLE: Contributos para atividades no nível C, da autoria de Teresa Bagão, apresenta um projeto de investigação-ação desenvolvido no âmbito de um estágio e do qual resultou a organização e construção de um conjunto de materiais que visam facilitar a compreensão oral na aprendizagem de uma língua estrangeira. Os documentos utilizados, bem como as atividades auditivas desenvolvidas no âmbito do projeto são apresentados através de descrições e de registos áudio e vídeo, surgindo como elementos importantes numa perspetiva da didática do ensino das línguas estrangeiras.

As autoras do artigo Artes visuais para a educação infantil: atividade semipresencial na formação de professores, Lígia Fontana e Lilian Lizardo apresentam uma investigação-ação desenvolvida com um grupo de estudantes do curso de Pedagogia, numa instituição privada no Brasil, sobre a utilização da aplicação Whatsapp, em aulas presenciais e à distância. Do estudo, as autoras concluem que os ambientes virtuais facilitam as partilhas, a comunicação e o acesso a novas aprendizagens, possibilitando um conhecimento construído no coletivo.

No artigo Aplicações multimédia – um recurso educativo na exploração de coleções museológicas, Maria João Mota apresenta-nos o processo de construção de uma aplicação multimédia inovadora, que permite dar a conhecer a coleção têxtil do Museu de Aveiro, sem pôr em causa a sua conservação. A característica interativa da aplicação facilita o envolvimento e a participação do/a visitante.

No artigo intitulado Teatro como pedagogia social e prática de desenvolvimento pessoal – Brecht e a Educação Social, Júlia Correia reflete sobre a potencialidade e o interesse pedagógico das peças didáticas de Brecht na educação política, pessoal e social desenvolvida em diferentes âmbitos de educação e de intervenção comunitária. A autora apresenta uma contextualização histórica das peças didáticas brechtianas e, sustentando-se especialmente na teorização apresentada por Steinweg, discute a pertinência desta obra nos tempos atuais, no espetro da educação social, para a conscientização e participação, onde os sujeitos são espectadores e atores, participando ativamente no fenómeno da criação (artística e social).

Em Associações/grupos/coletivos portugueses e questões Trans, Ana Ferreira apresenta e discute a abordagem ao transgenerismo presente nas redes sociais e websites de associações/coletivos/grupos portugueses ligados à identidade de género. A autora defende a necessidade de maior partilha de conteúdos informativos nas redes sociais, bem como de formas de denúncia em caso de discriminação que tenha por base a identidade e expressão de género.

Esperamos que a diversidade de experiências relatadas fomente novos projetos e potencie partilhas e debates. O próximo número da Sensos-e centra-se no tema “Ensino de Ciências e Tecnologias: Relatos de práticas”, possibilitando ainda a publicação de artigos de outros âmbitos educativos, em secção específica.

Autor: Ana Bertão, inEd, ESE IPPorto | Isabel Timóteo, inEd, ESE IPPorto