Introdução
Com o contínuo desenvolvimento das TIC, sobretudo no que diz respeito ao crescimento exponencial das modalidades de educação à distância, é crucial que as comunidades educativas, nomeadamente as Instituições de Ensino Superior (IES) estejam atentas aos novos ambientes de aprendizagem que têm vindo a surgir no seio das sociedades contemporâneas, de modo a poderem tirar vantagem dos benefícios que as respetivas tecnologias oferecem.
Os Massive Open Online Courses (MOOC) constituem um exemplo recente de novos ambientes de aprendizagem. São baseados na teoria de aprendizagem conectivista(*) e consistem em cursos online abertos e gratuitos que permitem a inscrição de um grande número de participantes.
Os MOOC como modalidade de educação à distância, surgiram em 2008, mas só mais tarde, em 2012 (ano do MOOC, proclamado pelo jornal “The New York Times – The year of the MOOC”), é que foram aplicados diversos investimentos em projetos MOOC, permitindo que os referidos cursos ganhassem escala e popularidade. Podemos afirmar que atualmente se encontram em fase de adoção mundial no universo do ensino superior.
Tendo em consideração a redução de alunos nas Instituições de Ensino Superior, nomeadamente no interior de Portugal, bem como muitas situações de abandono escolar, no referido estudo iremos abordar os MOOC como estratégia de captação de alunos para as IES portuguesas.
No decorrer do estudo apresentaremos o conceito e caracterização dos MOOC e o seu papel no ensino superior. Genericamente este trabalho baseia-se numa dissertação de mestrado (Gonçalves, 2013) e pretende sintetizar e atualizar a pesquisa bibliográfica e na web, sinalizando alguns MOOC e respetivas instituições envolvidas.
Pretende-se essencialmente que este artigo constitua um contributo relevante ao nível da apresentação do estado-da-arte dos MOOC, para além de evidenciar a importância que este tipo de cursos poderá ter na captação de novos alunos para muitas das instituições.
Conceito dos MOOC
Dias (2013) refere que o primeiro curso MOOC, Connectivism and Connective Knowledge, desenvolvido por George Siemens e Stephen Downes, contou com cerca de 2300 participantes e foi oferecido no final de 2008. Após alguns estudos de avaliação, nos anos seguintes, realizaram-se diversos MOOC, nomeadamente o Digital Storylling em 2011 com 1.200 participantes e o Introduction to Al, no mesmo ano, que contou com 160.000 participantes. Atualmente realizam-se vários MOOC, muitos dos quais contam com a participação de centenas de pessoas de todo o mundo.
Antes de identificarmos outros cursos, vamos apresentar o conceito dos MOOC. Gonçalves (2013), na sua dissertação de mestrado, afirma que:
“Apesar de existirem diversas definições para o mesmo conceito, esta modalidade de educação à distância possui três pontos em comum a todas as aceções atualmente existentes: Livres: qualquer pessoa se pode inscrever gratuitamente; Larga escala: suporta um grande número de participantes (cursos de larga escala); Simplicidade: é apenas necessário um professor para coordenar todas as informações que se encontram na respetiva rede.” (p. 46)
Como afirma Gonçalves (2013), apesar de existirem diferentes aceções para o conceito MOOC, entendemos que a definição de Mcauley (2010), citado por Inuzuka & Duarte (2012), é a que melhor expressa o respetivo conceito:
“Um MOOC é um curso online com a opção de inscrição aberta e livre, um currículo compartilhado publicamente, e que gera resultados com finais imprevisíveis. Os MOOC integram rede social, recursos online acessíveis e são facilitados por profissionais especialistas na área de estudo. Mais significativamente, os MOOC são construídos por meio do engajamento dos aprendizes, que auto-organizam sua participação de acordo com seus objetivos de aprendizado, conhecimento prévio e interesses comuns [...] Os MOOC compartilham algumas das convenções de um curso regular, como um cronograma pré-definido e tópicos semanais para estudo. Geralmente não há cobrança de taxas, não há pré-requisito além do acesso à Internet e interesse, não há expectativas pré-definidas para participação e nenhuma acreditação formal”. (p. 256)
Exposto o conceito de Mcauley (2010), apresentamos um vídeo da Iversity (2013) para melhor compreendermos ou complementarmos o conceito MOOC.
Caracterização dos MOOC
Segundo Siemens (2012a), os MOOC podem ser divididos em dois tipos de modelos: cMOOC e xMOOC.
Os cMOOC, segundo Pacheco, Novo e Galego (2013), são um tipo de cursos de variação conectivista e centrados nos contextos, sendo que as atividades são de caráter mais autónomo, onde o participante procura informação e a partilha com os restantes intervenientes. Os materiais do curso são partilhados entre todos e o professor direciona, auxilia e orienta a aprendizagem dos participantes.
Este tipo de modelo, de variação conectivista, é centrado nos contextos e permite atividades de caráter mais autónomo. No que diz respeito ao participante, este procura informação, partilhando-a com os restantes participantes do respetivo curso. Os materiais são partilhados também entre os vários participantes, sendo que é o professor que direciona, auxilia e orienta a aprendizagem dos mesmos.
Downes (2011), afirma que na implementação de um cMOOC existem quatro tipo de atividades de caráter básico, entre as quais: a agregação, que consiste no conjunto de diversas fontes de informação, nomeadamente o blog, artigos, vídeos, redes sociais, que permitem a discussão dos vários temas; o remixing, que permite associar materiais criados dentro do curso com materiais de outros espaços; o repurposing, que consiste no reaproveitamento de materiais agregados para criar novos, e por último, o feeding forward, que compreende a partilha do trabalho, com outros participantes e com o mundo.
Figueiredo (2012) considera que os MOOC são de caráter exploratório, isto porque são constituídos por ciclos de tentativa-erro-reflexão; disruptivos, por romperem com a forma clássica de ensino aprendizagem; desconstrutivos, porque colocam em causa as grandes ideias instaladas na educação; incubadores, porque são espaços de exploração de novas práticas pedagógicas; contextuais, porque o conhecimento vai sendo co-construido pelos participantes, existindo uma primazia do contexto sobre o conteúdo.
Já relativamente aos xMOOC, Pacheco, Novo e Galego (2013), afirmam que estes cursos são centrados, essencialmente, nos conteúdos e com uma organização mais rígida, não permitindo grande margem para a criatividade.
Este tipo de cursos são de variação originária no MIT/Stanford e as suas atividades são orientadas/auxiliadas pelo professor. Os participantes podem contribuir com documentos e com troca de ideias entre eles, sendo que o professor tem como funções fornecer os materiais de apoio e direcionar as discussões.
De acordo com Mota (2012), os xMOOC têm como vantagens a interação e a cooperação, a sociabilidade e a abertura, mas têm como desvantagens os fóruns ineficientes, pouca transparência e a centralidade do curso, principalmente, no professor.
Ou seja, enquanto os cMOOC priorizam a ligação entre os diversos participantes, tornando-se mais interativo, devido sobretudo à partilha de recursos entre todos os intervenientes (participantes e professores), os xMOOC têm como fundamento principal aulas baseadas em vídeo, sendo que o interveniente principal é o professor, devido ao facto que é o mesmo o titular do conhecimento.
Lane (2012) apresenta uma perspetiva, que sustenta que todos os tipos de MOOC possuem três elementos em comum: Network-based, Task-based e o Content-based.
Figura 1 – Três tipos de MOOC (adaptado de Lane, 2012)
- Network-based: consistem em cursos baseados em rede, onde o objetivo não é tanto o conteúdo, mas sim, a aquisição de competências. A pedagogia é fundamentada em métodos conectivistas, sendo que um exemplo deste tipo de cursos é o “MOOCEaD – O primeiro MOOC em língua portuguesa” (http://moocead.blogspot.pt/p/mooc-ead.html).
- Task-based: são baseados em atividades, fazem com que o aluno realize determinadas atividades ou complete certos tipos de trabalho. A pedagogia tende a ser uma mistura de instrutivismo e construtivismo.
- Content-based: têm um grande número de matrículas, perspetivas comerciais, renomeados professores universitários, etc. A aquisição do conteúdo é mais importante do que a rede ou a conclusão das atividades. A pedagogia utilizada é baseada no modelo instrucionista.
Clark (2013) apresenta outra perspetiva orientada para o nível pedagógico, que sustenta que existem diversos tipos de MOOC, nomeadamente os:
- TransferMOOC: correspondem a cursos que, literalmente, decantam de cursos existentes em plataformas virtuais (e.g. Coursera).
- MadeMOOC: são cursos que tendem a ser mais inovadores no modelo instrucional e são baseados na resolução de problemas.
- SynchMOOC: tendem a usar prazos para a apresentação de trabalhos e avaliações (e.g. Coursera e Udacity).
- AsynchMOOC: podem ser frequentados em qualquer altura e em qualquer lugar (e.g Coursera).
- AdaptativeMOOC: são cursos que permitem uma aprendizagem personalizada e são baseados em avaliação dinâmica (e.g. Gogbooks).
- GroupMOOC: iniciam com pequenos grupos colaborativos de alunos, que são selecionados por software, em função da localização geográfica, competências prévias, etc, e funcionam com a ajuda de mentores.
- ConnectivistMOOC: permitem recolher e partilhar conhecimentos trazidos pelos próprios participantes.
- MiniMOOC: que consistem em cursos e-Learning comerciais, mais curtos e intensivos, que apenas duram horas ou poucos dias. São cursos mais adequados a domínios e tarefas específicas.
Fornecedores de MOOC (Plataformas de suporte)
Identificados os tipos de MOOC, de acordo com as perspetivas dos diversos autores, segue-se a apresentação dos fornecedores (plataformas de suporte) dos respetivos cursos. Em conformidade com Oliveira (2013), apresentamos alguns dos fornecedores de MOOC:
Coursera: foi criada pelos professores Daphne Koller e Andrew Ng da Universidade de Stanford em 2013 e consiste numa plataforma online agregadora dos cursos, com parceria com mais de 30 universidades, com o objetivo de desenvolverem conteúdos educativos.
Figura 2 – Plataforma Coursera (Página oficial da Coursera)
EdX: é também uma plataforma que começou numa parceria entre as universidades de Harvard e o MIT em 2012 e oferece atualmente cerca de 60 cursos.
Figura 3 – Plataforma Edx (Página oficial da Edx)
Udacity: foi fundada pelo professor Sebastian Thrun da Universidade de Stanford, com Mike Sokolsky e David Stavens e disponibiliza mais de 20 cursos.
Figura 4 – Plataforma Udacity (Página oficial da Udacity)
Udemy: foi criada por Eren Bali e Oktay Caglar e permite a criação de cursos, sem necessidade de ligação institucional.
Figura 5 – Plataforma Udemy (Página oficial da Udemy)
Iversity: é uma startup sediada em Berlim que foi fundada em 2011 com o objetivo de oferecer ferramentas colaborativas para a gestão online da aprendizagem. Os cursos realizaram-se em Outubro de 2013 e foram oferecidos por universidades e professores em nome individual.
Figura 6 – Plataforma Iversity (Página oficial da Iversity)
Khan Academy: é uma fundação criada por Salman Khan – patrocinada por Bill Gates com a missão de oferecer mais de 4.000 vídeos sobre vários tópicos. É suportada por várias organizações e apresenta locuções em português.
Figura 7 – Plataforma Khan Academy (Página oficial da Khan Academy)
FutureLearn: é uma plataforma sediada no Reino Unido, fundada pela Open University em 2012, que já estabeleceu parcerias com 19 organizações.
Figura 8 – Plataforma FutureLearn (Página oficial da FutureLearn)
OpenUpEd: foi lançada com o apoio da Comissão Europeia e de vários parceiros da área da educação. Refira-se que integrada neste projeto encontra-se a Universidade Aberta.
Figura 9 – Plataforma OpenUpEd (Página oficial da OpenUpEd)
De realçar que, naturalmente, existem diversas empresas a posicionar-se no mercado dos MOOC, tais como a MOOC2Degree (http://www.mooc2degree.com); a CanvasNetwork (https://www.canvas.net); a CoursesSites (https://pt.coursesites.com); a Udemy (https://www.udemy.com); a Thinkful (http://www.thinkful.com), entre outras.
O universo dos MOOC
Tendo em consideração o volume de participantes nos MOOC atuais, vamos passar à apresentação de alguns cursos desta modalidade.
Atualmente estão a surgir cada vez mais MOOC promovidos pelas várias IES, que visam com estes cursos, abranger uma grande quantidade de alunos, como por exemplo as universidades da Pensilvânia, de Stanford e da Califórnia, nos EUA. Já o MIT e Harvard optaram por criar o edX, uma plataforma específica para o efeito.
Em outubro de 2012 foi também lançado, simultaneamente, em Portugal e no Brasil, o Primeiro MOOC em Língua Portuguesa, concebido por João Mattar (Brasil) e Paulo Simões (Portugal) e apoiado pelo TIDD (Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital) da PUC-SP (Brasil) e pela ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância (http://moocead.blogspot.pt/p/mooc-ead.html).
A Universidade Aberta Portuguesa (UaB) lançou em Abril de 2013, o primeiro curso MOOC, designado por iMOOC no quadro da iniciativa pan-europeia OpenupEd, desenvolvida pela European Association of Distance Teaching Universities, com o apoio da Comissão Europeia, cujo tema é As Alterações Climáticas: o contexto das experiências de vida.
Outros MOOC já foram realizados, nomeadamente o MOOC – Bullying em contexto escolar, promovido pelo Instituto Politécnico de Santarém, o MOOC Tutoria – Educação a Distância (EaD), promovido por João Mattar (PUC-SP e Universidade Anhembi Morumbi), os Cursos Online de Acesso Livre – promovidos pelo Instituto Politécnico de Leiria. Note-se que existem outros Institutos e Universidades Portuguesas em fase de adoção dos respetivos cursos.
Existem centenas de MOOC por todo o mundo já concluídos, outras centenas a decorrer e outros que brevemente irão surgir. É neste contexto atual, que pretendemos abordar esta modalidade de educação à distância, como estratégia para a captação de alunos para o Ensino Superior.
Certificação MOOC
De modo a finalizarmos a caracterização dos MOOC, Clark (2013) identifica os modelos de certificação atuais desta modalidade de educação. São eles:
- Ausência de certificação: após o curso ter terminado, não há lugar a qualquer tipo de papel certificativo, ou seja os participantes frequentam o curso pela simples experiência de aprendizagem.
- Certificado de frequência e conclusão: pode ser atribuído a quem completar um curso, no entanto não representa qualquer tipo de acreditação oficial, ou seja, é atribuído apenas pelo reconhecimento.
- Certificado de mestria: fornece uma nota, mas que não é um crédito oficial. É o caso de alguns cursos da EdX, sob os auspícios de Harvard e do MIT, que até agora eram gratuitos mas que brevemente deixarão de ser.
- Certificados de distinção: estão a ser oferecidos diversos níveis de consecução dos cursos, por exemplo, pela Udacity que providencia, a baixo custo, kits de testes a instituições que usem os seus cursos e que queiram testar os conhecimentos adquiridos pelos seus alunos.
- Créditos universitários: por exemplo em alguns cursos selecionados pela San Jose State University, podem ser atribuídos créditos por 150 dólares, com direito ao curso, a tutoria, comunicação direta com tutores e exames online.
No que diz respeito aos créditos universitários, Siemens (2012b) alerta para o facto do reconhecimento formal para a obtenção de créditos, tal como se pode verificar no vídeo 2.
Atualmente é possível ensinar universalmente, no entanto, o reconhecimento de créditos caminha para ser local. É possível que este modelo venha a ser, unicamente, adotado pelas universidades.
Vídeo 2 – “Designing, development, and running (massive) open Online Courses”
Papel dos MOOC nas IES
Como já frisamos anteriormente, as IES passam atualmente por uma fase de mudança, não só devido à constante diminuição dos alunos no Ensino Universitário e Politécnico, aliado ao facto do abandono escolar e da redução da taxa de natalidade, mas também pelo crescimento exponencial das tecnologias de informação e comunicação, essencialmente no que diz respeito às novas modalidades de educação à distância.
Consideramos, portanto, que é neste espírito de mudança que as Universidades e os Politécnicos se devem afirmar. Afirmar pela mudança, pela oportunidade e sobretudo pela inovação tecnológica.
É precisamente neste espaço da inovação tecnológica que nos centramos, de modo a percebemos qual o papel dos MOOC, como modalidade de educação à distância, no universo do Ensino Superior.
Os MOOC, como modalidade de educação à distância, são uma temática bastante recente tanto no universo das tecnologias como no da educação, e como tal é de salientar ainda a falta de bibliografia acerca desta temática. Posto isto, apresentamos a nossa perspetiva face ao papel atual dos MOOC nas IES:
- Inovar educacionalmente através da implementação desta modalidade de educação;
- Ensinar e aprender por todos: tanto o ensino como a aprendizagem é realizado tanto pelo professor, como pelo aluno;
- Incentivar ao empreendedorismo, inovação, entre outros projetos;
- Reduzir os custos pessoais correspondentes a deslocações, entre outros;
- Criar um ambiente online, composto por um espírito de colaboração e cooperação, partilha de conteúdos e opiniões entre todos os participantes;
- Disponibilizar cursos interativos compostos por atividades, recursos, fóruns e outras ferramentas assíncronas e síncronas que permitam que o participante desenvolva os seus conhecimentos;
- Incentivar à interação com as plataformas e outras tecnologias que servem de base e de apoio à concretização do respetivo curso;
- Reduzir a carga horária presencial de determinado curso (Licenciatura, Mestrado, entre outros);
- Incentivar os professores a desenvolverem recursos didáticos mais atuais e com mais qualidade;
- Promover as Universidades e os Politécnicos não só no âmbito nacional, mas também internacional;
- Incentivar as comunidades académicas para a educação à distância;
- Permitir ao aluno a frequência de determinada disciplina e/ou curso, e que a distância geográfica não seja o impedimento para que tal não suceda;
- Munir o sistema de formas que garantam a autenticidade dos utilizadores. Um exemplo simples poderá ser a videoconferência.
Apresentado o papel dos MOOC nas IES, é crucial identificarmos algumas questões que, eventualmente, poderão ser um entrave à implementação dos MOOC, nomeadamente: De que modo será realizada a avaliação final? Como poderão ser atribuídos créditos pela(s) disciplina(s) do MOOC que realizou para o curso que deseja frequentar (ex: Licenciatura)? A garantia que o ambiente MOOC assegure a autenticidade do aluno, será suficiente? Poderá um MOOC substituir, integralmente, uma disciplina, em modalidade presencial? Qual poderá ser o modelo de certificação a implementar? Como se processará a atribuição dos certificados? De que modo o aluno poderá ser original na realização de um MOOC? Relativamente ao plágio, poderá aumentar ou diminuir? Será possível a implementação de um MOOC em qualquer IES? De que modo poderá existir transparência na frequência de um MOOC? Entre outras, estas são algumas questões que poderão constituir um entrave à implementação de um determinado MOOC.
MOOC como estratégia de captação de alunos
Num Jornal Brasileiro, denominado “Folha de S. Paulo”, referente a Agosto de 2013, pode ler-se: “Grupos privados de educação investem em tecnologias para processar grandes volumes de dados, com o objetivo de aumentar a taxa de captação de estudantes e reduzir os índices de evasão”. (Folha de S. Paulo, 2013)
Tendo em consideração a existência das novas tecnologias, a dependência das mesmas no nosso quotidiano, e a sua presença em diversos locais (casa, escolas, bibliotecas, cafés, restaurantes, entre outros), pode-se constatar que o atual aluno, em princípio do 12º de escolaridade, possível candidato ao ensino superior, já depende, direta e indiretamente, das várias tecnologias que o mesmo utiliza diariamente. Ora nesta perspetiva, o aluno pode, eventualmente, ser atraído para as IES, caso as mesmas estejam dotadas e capacitadas com condições tecnológicas, que cativem o aluno para a candidatura, inscrição e posterior frequência em determinado curso de ensino superior.
Além de se dotarem as Instituições com equipamentos tecnológicos atuais, é crucial, a criação de medidas que permitam captar mais estudantes para as diversas IES existentes em Portugal. Neste estudo, tal como referido anteriormente, apresentamos os MOOC como uma medida de angariação de alunos nas referidas Instituições.
Gonçalves (2013), na sua dissertação de Mestrado em TIC na Educação e Formação (MTIC), afirma:
“…sugerimos que se adote os MOOC como meio de promoção do mestrado e como estratégia de captação de potenciais alunos… Algumas disciplinas do mestrado poderiam estar disponíveis em MOOC com o objetivo de uma maior divulgação e posteriormente inscrição dos mesmos nas disciplinas do MTIC.” (p. 83)
O mesmo autor refere que a utilização dos MOOC como estratégia de captação de alunos passa pela disponibilização gratuita e em acesso aberto, de duas ou três unidades curriculares do respetivo curso, de modo a que o respetivo participante, após conclusão das respetivas unidades curriculares, possa candidatar-se ao referido curso, usufruindo da creditação das unidades curriculares já realizadas em modalidade MOOC.
No que concerne à atribuição de créditos das unidades curriculares, legalmente pode-se constatar, pelo Decreto-Lei nº42/2005 de 22 de Fevereiro, Capítulo II (Sistema de créditos curriculares), Artigo 8º (Ensino a distância), o seguinte:
- Nos cursos ministrados total ou parcialmente em regime de ensino a distância aplica-se o sistema de créditos curriculares;
- Às unidades curriculares oferecidas, em alternativa, em regime presencial e a distância é atribuído o mesmo número de créditos.
O Artigo 9º (Casos especiais) sustenta que é o órgão legal e estatutariamente competente do estabelecimento de ensino superior, que fixa as condições de aplicação do sistema de créditos curriculares que não se organizam em anos, semestres ou trimestres letivos.
Parece-nos portanto que a captação de alunos através dos MOOC seja conduzida da seguinte forma:
- Disponibilização gratuita e aberta de algumas unidades curriculares de determinado curso, que permitam ao participante – possível candidato – interagir com os diversos conteúdos do curso que, em princípio, está interessado em ingressar;
- Após concluídos os MOOC, disponibilizarem-se os respetivos recursos nas diversas plataformas e redes sociais, de modo a serem promovidos determinados cursos, recursos ou abordagens de aprendizagem presentes nas IES;
- Como já referido anteriormente, a atribuição de créditos pela(s) disciplina(s) do MOOC que realizou para o curso que deseja frequentar (ex: Curso de Especialização Tecnológica, Licenciatura, Mestrado, entre outros).
No que diz respeito à creditação e de acordo com Mattar (2013):
“Há inclusive um movimento no ensino superior norte-americano para que os MOOCs passem a ser reconhecidos em universidades, valendo como disciplinas por equivalência, o que deve contribuir para o estabelecimento de algum tipo de cobrança nos cursos.” (p.31)
Apesar de atualmente já existir creditação dos MOOC em algumas Instituições estrangeiras (Clark, 2013), este ainda é aspeto muito controverso nas IES portuguesas.
Conclusão
Tendo em consideração que os MOOC, como modalidade de educação à distância, são uma temática bastante recente tanto no universo das tecnologias como no da educação, é de salientar que a falta de bibliografia e de recursos foi um facto ao longo do desenvolvimento deste artigo.
Os MOOC encontram-se, atualmente, em fase de adoção mundial, e consistem em cursos de acesso livre onde qualquer pessoa se pode inscrever de forma gratuita, pois suportam um elevado número de participantes e são caracterizados pela sua simplicidade, isto porque, normalmente, possuem uma interface bastante intuitiva, ferramentas simples e recursos acessíveis.
Existem diversos tipos fornecedores agregadores de MOOC (Oliveira, 2013), entre os quais, a Coursera, Edx, Udacity, Udemy, Iversity, Khan Academy, entre outros. Verifica-se que são cada vez mais as empresas que se estão a posicionar neste mercado, tais como a MOOC2Degree, Canvas Network, Udemy, Thinkful, entre outras.
Atualmente, na nossa perspetiva, os MOOC têm um papel bastante promissor nas IES, nomeadamente no que diz respeito à inovação tecnológica, ao acesso ao ensino e aprendizagem por todos os intervenientes, ao incentivo ao empreendedorismo e inovação, à redução de custos pessoais, ao espírito de colaboração, à disponibilização de diversos cursos interativos, ao incentivo à interação com as plataformas, entre outros.
Por último, no que respeita aos MOOC como estratégia de captação de alunos para as IES, verifica-se que a mesma pode acontecer pela disponibilização gratuita e aberta de algumas unidades curriculares de determinado curso, que permitam ao participante (possível candidato) interagir com os diversos conteúdos; disponibilização dos respetivos recursos nas diversas plataformas e redes sociais, de modo a promoverem-se determinados cursos presentes nas IES; atribuição dos créditos pela(s) disciplina(s) do MOOC que realizou, servindo de equivalência a uma determinada disciplina, de um curso de Ensino Superior, que deseja frequentar. Apesar de ainda não haver normas específicas, em Portugal, acerca da creditação dos MOOC, é desejável que brevemente surja legislação nesse sentido, de modo a que o respetivo processo seja mais claro para os utilizadores.
Além da creditação, é também desejável que num futuro próximo se consiga obter respostas face à autenticidade do aluno, à avaliação do MOOC, ao processo de implementação, entre outros.
Para responder cabalmente a muitas destas questões, teremos que aguardar algumas mudanças, supostamente facilitadoras desta nova forma de aprendizagem. Por agora só poderemos conjeturar e argumentar que os MOOC poderão ser uma modalidade importante no futuro da aprendizagem.