Introdução
Esta investigação permitiu-nos verificar a existência de (possíveis) relações entre as características dos sujeitos e as suas estratégias de navegação/exploração/orientação espacial virtual.
São diversos os fatores que contribuem para a caracterização das diferentes estratégias de navegação e orientação espacial individual.
Neste estudo realçamos como elementos fundamentais na diferenciação de estratégias de navegação dos sujeitos, as áreas da psicologia e da neurologia, e os fatores: lateralidade, dependência/independência de campo, visualização e orientação espacial, memória e a divisão do cérebro humano em duas partes simétricas capazes de operarem independentemente – hemisfério esquerdo e hemisfério direito -, cuja diferenciação se sustenta na existência de uma dicotomia hierarquizada em função das suas características respetivas: “racional versus intuitiva; explícita versus implícita; analítica versus sistémica” (Springer e Deutsch,1985, p.201).
Wynsberghe, Noback e Carola (1995) referem que apesar de, na generalidade, os dois hemisférios cerebrais apresentarem a mesma forma, desempenham diferentes funções. “Um dos hemisférios, normalmente o esquerdo, é ativo na fala, na escrita, no cálculo, na compreensão da linguagem e no processo do pensamento analítico. O outro hemisfério, normalmente direito, é mais especializado na perceção das relações espaciais, na conceptualização de ideias não verbais, na compreensão da linguagem simples e nos processos do pensamento geral” (p. 404). Neste mesmo sentido afirma Seeley e outros (1995) que “a linguagem e talvez outras funções como as atividades artísticas não são partilhadas igualmente entre os hemisférios esquerdo e direito” (p. 425). Especifica este autor que atividades como a perceção tridimensional ou espacial envolvem mais diretamente o hemisfério direito (p. 425).
McGee (1979), relacionando as capacidades de orientação espacial com as tarefas percetual-cognitivas, defende que a psicologia diferencial se tem “interessado pela visualização e orientação espaciais porque a superioridade masculina, na execução de tarefas que exigem estas capacidades, é a mais persistente das diferenças individuais” (p.909). Afirma que estas diferenças se verificam porque “os sujeitos masculinos têm maior especialização do hemisfério direito do que os sujeitos femininos” (p.909). No entanto este autor, também refere que estas diferenças individuais não se manifestam com clareza antes dos 12 e 13 anos de idade para o sexo feminino e para o sexo masculino respetivamente, e, ainda, que no “desenvolvimento de capacidades de orientação espacial as diferenças devidas ao sexo estão provavelmente relacionadas com as diferenças no desenvolvimento da especialização hemisférica” (p.909).
Considerando as afirmações de Springer e Deutsch (1985), de Wynsberghe, Noback e Carola (1995), Seeley (1995), e de McGee (1979) poderemos sintetizar e concluir que:
- o hemisfério esquerdo é considerado fundamental para as funções de controlo da fala, da linguagem, da leitura, da escrita, do cálculo matemático, das operações abstratas, analíticas, digitais, lógicas, sequenciais, temporais e verbais;
- o hemisfério direito é considerado fundamental para as atividades criativas associadas às funções estéticas, analógicas, concretas, holísticas, imaginativas, intuitivas e espaciais.
Fernández-Ballesteros e Manning (1981) relacionam a especialização hemisférica, a lateralização e a dependência-independência de campo percetivo, afirmando que os sujeitos “independentes de campo perceptivo apresentam maior especialização hemisférica do que os dependentes de campo percetivo” (in Dias, 1989, p.59).
Para Witkin, Ash e al. (1974) a maior ou menor facilidade com que um indivíduo resolve os problemas de lateralidade colocados pela experiência do espelho “evidencia um traço percetual a que a Escola de Brooklyn chamou dependência-independência de campo percetivo e que é um fator que, relacionado com outros, reflete o nível de diferenciação psicológica” individual (em Dias, 1989, p.57). E Witkin e Goodenough (1991) sustentam que o campo que nos rodeia e apreendemos através da visão é percecionado como uma área “cujos eixos principais correspondem às verdadeiras direções vertical e horizontal do espaço” (p.30).
Consideramos importantes as conclusões dos estudos realizados por Witkin e colaboradores (1974 e 1977) para medirem a dependência-independência de campo em sujeitos de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 5 e os 24 anos, que mostraram a existência de “uma redução progressiva de dependência de campo entre os 5 e os 17 anos e que a partir dos 17 a modificação é muito reduzida com tendência para inverter o sentido” (Dias, 1989, pp.61-62), gráfico 1.
Gráfico 1. Distribuição dos sujeitos em função da idade e da dependência de campo (*)
São relevantes, também, os resultados dos estudos desenvolvidos por McLeod (1987) e aplicados a estudantes de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 13 e os 21 anos, distribuídos por três grupos – 13 a 15 anos, 16 a 18 anos, 19 a 21 anos – com o objetivo de verificar o sentido da tendência do desenvolvimento da dependência de campo (p.117). Os resultados encontrados estão representados no gráfico 2.
Gráfico 2. Distribuição dos sujeitos dos três grupos de idades em função da dependência de campo (*)
E, ainda, as experiências realizadas por Paramo e Tinajero (1988) com “90 crianças de 8 a 11 anos (50 rapazes e 40 raparigas), estudantes do 3º ao 6º anos que residiam em Santiago de Compostela”, e nas quais esperavam verificar “algum tipo de associação entre sexo e idade das crianças com a sua dependência-independência de campo percetivo” (p.43), verificaram que “à medida que aumenta a idade, as crianças são mais independentes de campo perceptivo e que não se encontraram diferenças na dependência-independência de campo percetivo em função do sexo” (p.44), gráfico 3.
Gráfico 3. Distribuição dos sujeitos dos 8 aos 11 anos de idade, em função da dependência de campo percetivo (*)
Já Lynch (1960), nas suas experiências sobre a organização espacial de uma cidade, destaca a relevância da representação e orientação mental na realização de percursos apoiados em esquemas topológicos e espaciais (pp.47-48).
A maioria dos indivíduos apresenta comportamentos e estratégias de exploração e orientação no espaço real (físico, no terreno) claros, bem referenciados e bem interiorizados. Provavelmente algo de diferente se verificará nos comportamentos e estratégias individuais de exploração e orientação no espaço virtual (*), “a interação entre o ser humano e o mundo virtual criado em computador terá de considerar aspetos que não estão presentes na interação entre o ser humano com o mundo real” (p.223). Para estes autores a experiência de exploração espacial de um indivíduo dentro de um sistema virtual pode ultrapassar os limites dos seus sistemas motores e percetivos, e por consequência, provocar-lhe efeitos físicos e mentais que poderão conduzir, na maioria das vezes, à sua desorientação espacial.
Os aspetos relacionados com a visualização e a orientação espacial assumem uma relevância fundamental, e são referidos, frequentemente, pelos utilizadores como uma dificuldade quando navegam imersos em ambientes espaciais virtuais.
McGee (1979) ao referir os resultados dos testes da AAF (Army Air Force USA), ministrados a milhares de militares, refere-se à visualização espacial como uma capacidade para imaginar a rotação de objetos, as mudanças relativas de posição dos objetos no espaço, ou o movimento de mecanismos, e é apresentado como uma capacidade para manipular mentalmente elementos de um modelo; e às relações espaciais como uma capacidade para determinar relacionamentos entre diferentes estímulos ordenados espacialmente e as respostas e a compreensão do arranjo de elementos dentro de um modelo de estímulo visual (p.892).
Thurstone (1950) apontou três fatores fundamentais no pensamento visual que relacionou com a orientação visual no espaço:
1. a capacidade para resolver a identidade de um objeto quando era visto a partir de diferentes ângulos. Este fator era também caracterizado pela capacidade para visualizar uma configuração rígida (objeto como um todo) quando em movimento para diferentes posições;
2. a capacidade para imaginar movimento ou deslocamento interno entre as partes de uma configuração total;
3. a capacidade para pensar acerca daquelas relações espaciais nas quais a orientação do corpo do observador é uma parte essencial do problema.
Levelt (1982) apresenta-nos a sua experiência sobre orientação espacial que realizou com base no esquema representado na figura 1. Aos sujeitos que nela participaram solicitou-lhes que fizessem uma descrição de movimentação através dos nodos do esquema de uma forma que considerassem normal e partindo do nodo indicado pela seta.
Figura 1. Rede de nodos
Obteve duas diferentes de descrições:
Uma descreveu o esquema em sete passos (movimentos):
1. No centro para começar, o nodo “cinza”;
2. Daqui para cima, para o nodo “vermelho”;
3. Depois para a esquerda, do nodo “vermelho” para o nodo “rosa”;
4. Depois outra vez para a esquerda do nodo “rosa” para o nodo “azul”;
5. Depois para trás, outra vez para o nodo “vermelho”;
6. Depois do “vermelho” para a direita para o nodo “amarelo”
7. E do “amarelo” outra vez para a direita para o nodo “verde”.
Outra descreveu o esquema em oito passos (movimentos):
1. Eu começo atravessando o nodo “cinza”;
2. Ir a direito/em frente (straight on) para o nodo “vermelho”;
3. Ir para a esquerda para o nodo “rosa”;
4. Ir a direito/em frente para o nodo “azul”;
5. Dar a volta e voltar atrás para o nodo “rosa”;
6. Ir para trás, ou a direito/em frente para o nodo “vermelho”;
7. A direito/em frente para o nodo “amarelo”;
8. A direito/em frente para o nodo “verde” (pp. 251-252).
Na análise destes resultados, Levelt encontrou duas diferentes estratégias utilizadas pelos sujeitos na deslocação: a estratégia “ego-orientado (ego-oriented) e a estratégia esquema-orientado (pattern-oriented)”, considerando como fundamentais para validar estas diferenças, os seguintes três movimentos (passagem de um nodo parar outro; passos):
1º movimento: indo do “rosa” para o “azul” seria:
- “esquerda” (ou algum sinónimo: “lado esquerdo”, “para a esquerda”, etc.) para o indivíduo ego-orientado;
- “em frente” (ou algum sinónimo) para o indivíduo esquema-orientado.
2º movimento indo do “amarelo” para o “verde” seria:
- “direita” para o indivíduo ego-orientado;
- “em frente” para o indivíduo esquema-orientado.
3º movimento seria:
logo no primeiro passo, indo do “cinza” para o “vermelho”, a referência “para cima” ou algum sinónimo, indicaria o tipo de indivíduo ego-orientado (p.259).
Encontramos referências a dificuldades e a erros de navegação espacial em variados estudos que nos levam a supor que, para a maioria dos indivíduos, a tarefa da orientação espacial representa uma dificuldade acrescida, atingindo o seu ponto crítico na situação de inversão de sentido a que corresponde uma rotação espacial de 180º. É nesta situação que se verifica a ocorrência do maior número de erros de navegação. Do ponto de vista do utilizador (navegador espacial), a razão desta dificuldade poderá estar relacionada com o facto da rotação espacial colocar o seu alvo/destino na posição exatamente oposta, em relação à sua posição do terreno.
Estudo
Os estudos que anteriormente tínhamos realizado permitiram-nos verificar que para uma dada situação multimédia, nem todos os sujeitos utilizavam a mesma forma de exploração espacial (Silva, 1990, 2003).
Esta situação balizava o nosso problema entre os limites de cada utilizador ter a sua própria estratégia de navegação e orientação espacial e a existência de uma única estratégia universal.
Pensamos que é importante demonstrar, por um lado, a existência de grupos de utilizadores com comportamentos diferenciados e, por outro lado, que para um dado produto, é fundamental identificar a(s) estratégia(s) de navegação utilizada(s) pela maioria dos utilizadores.
Criámos uma situação multimédia de exploração espacial virtual muito simples que nos permitiu elaborar um modelo das estratégias cognitivas implicadas na sua exploração. Esse modelo previa a existência de apenas duas estratégias, diferindo entre si essencialmente pelo facto de os sujeitos considerarem ou não a sua orientação dentro do espaço virtual no seu comportamento de deslocação nesse espaço. Este modelo permitiu-nos adequar o documento multimédia à totalidade dos sujeitos da nossa amostra.
Objetivos
Os objetivos deste estudo consistem em, através de uma dada situação multimédia:
1. verificar a existência de grupos de utilizadores com comportamento próprio na navegação e exploração virtual multimédia;
2. confirmar a existência de grupos de utilizadores diferenciados em função das suas estratégias de navegação;
3. analisar os comportamentos de navegação no intuito de estudar os mecanismos cognitivos utilizados;
4. fazer corresponder tais mecanismos a perfis de utilizador, tentar compreender as estratégias cognitivas de navegação mais utilizadas e se possível modelizá-las.
Estudo Experimental
A tarefa proposta consiste em levar o objeto/móvel ao posto de abastecimento de gasolina e voltar à posição inicial (na estrada principal). Para tal, o utilizador terá de pressionar as setas (botões – dentro do círculo azul situado no canto inferior direito do ecrã) que dirigem o objeto pelo percurso representado a vermelho. A tarefa é extremamente simples e a situação experimental limita-se a apresentar ao utilizador um cenário que possibilita percursos alternativos.
O percurso da realização da tarefa está representado pelo traço vermelho. Neste percurso os pontos amarelos inseridos no traçado do percurso, representados a cor viva para indicar claramente os locais de ligação entre dois movimentos consecutivos do percurso, constituem os pontos de paragem obrigatória do utilizador durante a “navegação”, passo a passo. O local assinalado pela imagem da bomba de gasolina representa a consecução do primeiro objetivo, após o que o sujeito deverá iniciar a viagem de retorno até ao local de partida para concluir a realização da sua tarefa, atingindo desta forma o segundo e último objetivo da tarefa, figura 2.
Figura 2
Os sucessivos movimentos de deslocação do sujeito no percurso, dentro do espaço virtual representado no ecrã, implicam a correspondente mudança de posição e de orientação do ícone, indicando ao sujeito a sua posição (através dos pontos amarelos) bem como a sua orientação dentro do espaço virtual (através da orientação do ícone), figuras 3 e 4.
Figura 3 - Esquema sequenciado - ida |
Figura 4 - Esquema sequenciado - volta |
Plano Experimental
Segundo o modelo: os sujeitos de um dos grupos (que designaremos por Cartesianos) não tomam em consideração a rotação do objeto/móvel (ignorando a orientação do ícone), sendo a deslocação deste determinada em função do movimento pretendido ser para cima, para baixo, para a esquerda, ou para a direita, comandado pela seta, que na estrutura bidimensional do ecrã, tem o sentido desejado.
Para estes sujeitos, independentemente da sua posição e orientação atuais no espaço virtual, as setas são sempre solidárias com o plano cartesiano do ecrã e, portanto, optam sempre pelas setas correspondentes à direção e sentido do deslocamento pretendido dentro desse plano, figura 5.
Figura 5 – Setas de deslocação
Estes sujeitos, seja qual for a sua orientação dentro do espaço virtual, quando pretendem deslocar-se para Norte escolhem sempre a seta 1, para Este escolhem sempre a seta 2, para Sul escolhem sempre a seta 3, para Oeste escolhem sempre a seta 4.
Os outros sujeitos (que designaremos por Virtuais) consideram que a “cruz” definida pelas setas é solidária com a posição e orientação atuais do objeto/móvel no ecrã, pelo que o sentido do movimento comandado por cada seta, no plano bidimensional do ecrã, varia em função da posição/orientação em que o objeto/móvel se encontra, figura 5.
Se a orientação do sujeito dentro do espaço virtual écomportam-se da seguinte forma: quando pretendem deslocar-se para Norte escolhem a seta 1; para Este escolhem a seta 2; para Sul escolhem a seta 3; para Oeste escolhem a seta 4.
Se a orientação do sujeito dentro do espaço virtual écomportam-se da seguinte forma: quando pretendem deslocar-se para Norte escolhem a seta 4; para Este escolhem a seta 1; para Sul escolhem a seta 2; para Oeste escolhem a seta 3.
Se a orientação do sujeito dentro do espaço virtual écomportam-se da seguinte forma: quando pretendem deslocar-se para Norte escolhem a seta 3; para Este escolhem a seta 4; para Sul escolhem a seta 1; para Oeste escolhem a seta 2.
Se a orientação do sujeito dentro do espaço virtual écomportam-se da seguinte forma: quando pretendem deslocar-se para Norte escolhem a seta 2; para Este escolhem a seta 3; para Sul escolhem a seta 4; para Oeste escolhem a seta 1.
Apenas na situação em que a orientação do sujeito dentro do espaço virtual é, a interpretação dos deslocamentos associados às setas é igual para os sujeitos dos dois grupos, nas restantes três situações de orientações possíveis, essa interpretação é diferente nos dois grupos.
Para desfazer qualquer movimento, os sujeitos para os quais as setas são sempre solidárias com o plano cartesiano do ecrã carregam na seta de sentido oposto à seta que provocou o movimento anterior, enquanto os sujeitos do outro grupo, que consideram a sua própria orientação dentro do espaço virtual, carregam sempre na seta 3, correspondendo à posição das suas costas.
Os sujeitos deste último grupo, para quem os deslocamentos são solidários com a sua posição/orientação atual, comportam-se sempre da seguinte forma:
a seta 1 é usada para uma deslocação para a sua frente;
a seta 2 para a sua direita;
a seta 3 para a sua retaguarda (voltar atrás);
a seta 4 para a sua esquerda.
A introdução de uma “ajuda inteligente à navegação” permitiu adequar o programa a todos os utilizadores – evitando a ocorrência de erros de navegação devidos à não concordância entre o esquema de navegação do utilizador e o imposto pelo programa – e assim validar o modelo, tornando possível fazer corresponder a totalidade dos comportamentos de navegação dos utilizadores observados com os previstos no modelo, vídeos 1 e 2.
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Em função da opção do utilizador no 3º movimento, a “ajuda inteligente à navegação” classifica o utilizador em um dos dois perfis possíveis – virtual ou cartesiano – e adequa o esquema de navegação do programa ao perfil desse utilizador.
Amostra
A nossa amostra foi constituída por 180 sujeitos, com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos, divididos em 9 grupos etários de 20 elementos. Todos os sujeitos eram alunos do ensino oficial:
- os sujeitos com idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos pertenciam à Escola EB2-3 de Jovim;
- os sujeitos com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos eram alunos da Escola Secundária de Gondomar;
- os sujeitos com 18 anos eram alunos do 1º ano do ensino superior.
Para estudar a variável Sexo (Sx), a amostra foi constituída de forma a ter igual número de sujeitos do sexo feminino e do sexo masculino (90 elementos de cada); o mesmo número de elementos de cada idade (20 elementos) e de forma que a igualdade de sexos se mantivesse em cada grupo etário. Teve-se ainda o cuidado de que todos os elementos de cada grupo etário pertencessem ao mesmo nível escolar.
A variável Idade (Id) apresenta, neste estudo experimental, 9 modalidades, correspondentes às idades (nível escolar) dos sujeitos da amostra.
Metodologia
Cada sujeito da amostra foi confrontado com as 3 modalidades da variável Ícone (Ic), que constituía a indicação gráfica da sua localização no percurso.
Usamos três situações diferenciadas pelos ícones de indicação da localização do sujeito no percurso:
com um ícone sem orientação espacial própria – ícone “Gráfico-Círculo”;
com um ícone com orientação espacial própria – ícone “Gráfico-Homem”;
como o ícone “Gráfico-Homem”, para além da característica de apresentar orientação espacial própria, pode induzir ou favorecer a identificação com o sujeito, decidimos criar uma nova situação com o ícone “Gráfico-Carro” como elemento indicativo da posição do sujeito dentro do percurso.
A ordem de apresentação das 3 situações, correspondentes às modalidades desta variável independente, foi a mesma para todos os sujeitos: Ícone-Carro, Ícone-Círculo e Ícone-Homem.
Os vídeos 3, 4, 5, 6, 7 e 8 explicitam, para cada situação, as duas diferentes estratégias de navegação – Virtual vs Cartesiana.
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Análise dos Dados
A tabela I mostra a distribuição dos sujeitos pelos dois grupos definidos no modelo (cartesianos – estratégia independente da orientação atual do sujeito dentro do espaço virtual; virtuais – estratégia considerando essa orientação).
Tabela I – Efetivos dos grupos
Em função do sexos, os sujeitos cartesianos distribuíram-se conforme mostra a tabela II. Verifica-se que foram os elementos femininos que mais contribuíram para a supremacia encontrada de protocolos cartesianos. Nas três situações propostas, o grupo dos sujeitos cartesianos foi sempre maioritariamente constituído por sujeitos femininos.
Tabela II - Efetivos dos cartesianos / sexo
Nas três situações, a maioria dos sujeitos apresentou uma estratégia cartesiana.
Foi na situação em que o ícone indicando a posição atual do sujeito no espaço virtual não fornece informação sobre a orientação (ícone Círculo) que menos sujeitos usaram a estratégia que toma em consideração essa orientação. A informação adicional sobre a orientação do sujeito no espaço virtual parece favorecer essa evolução, gráfico 4.
Gráfico 4 – Efetivos dos Cartesianos / Idade / 3 Situações
Estes dados globais escondem no entanto o que pensamos serem os resultados mais importantes do estudo: a forte relação entre a idade dos sujeitos e o seu comportamento de navegação, gráfico 5.
Gráfico 5 – Média de Efetivos Cartesianos / 3 Situações
A idade dos sujeitos parece pois ter uma forte influência na estratégia de navegação. Parece que os sujeitos começam a considerar na sua estratégia de navegação a sua orientação no espaço virtual com a idade. Nos sujeitos de 18 anos, (passagem do ensino secundário para o superior), a utilização da estratégia virtual diminui significativamente.
Conclusões
Na resolução do problema de deslocamento no espaço virtual proposto, confirmou-se a existência de dois grupos de sujeitos com diferentes comportamentos de navegação, em função de considerarem ou não a sua orientação dentro do espaço virtual.
O tipo de informação icónica fornecida ao sujeito sobre a sua orientação atual no espaço virtual parece favorecer e induzir a sua estratégia de navegação, assente precisamente nessa orientação. Isto é, o facto de a informação icónica não apresentar orientação espacial própria parece desfavorecer a utilização da estratégia virtual.
A idade dos sujeitos parece ser o fator determinante da estratégia de navegação utilizada pelos sujeitos: a consideração da orientação do sujeito no espaço virtual parece aumentar com a idade deste.
A utilização de “ajudas inteligentes à navegação” baseadas no conhecimento dos mecanismos associados às diferentes estratégias de exploração, impostas por um dado produto multimédia para a sua navegação, possibilita adequar esse produto aos diferentes grupos de utilizadores e contribui decisivamente para a orientação espacial dos sujeitos.
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Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico – convertido pelo Lince